DIREITO, PODER E RESISTÊNCIA NO FILME CAPITÃES DA AREIA

Willis Santiago GUERRA FILHO, Thulio José Michilini Muniz de CARVALHO

Resumo


Objetivos: O artigo examina a relação entre Direito, poder e resistência, sob o prisma de uma pragmática jurídica pensada a partir e além de Niklas Luhmann. Pretende-se esclarecer o assunto e demonstrar como a chamada crise de legitimidade estatal se manifesta nas tramas colhidas do filme Capitães da Areia e da obra de Jorge Amado de mesmo nome.

 

Metodologia: O estudo adota abordagem predominantemente dialética, baseia-se em técnica de pesquisa bibliográfica, tendo propósitos zetéticos (investigativo-problematizantes) e dimensão transdisciplinar (direito, política, religião, arte e teoria da linguagem). 

 

Resultados: Demonstra-se, com base numa visão sociológico-pragmática do Direito, que se pode enxergar a legitimidade estatal e a crise desta como questão de sustentabilidade (fática) da autoridade do Estado enquanto tal, apartando-se, portanto, da visão predominante que encara o problema da legitimidade estatal como questão de validade normativa. Isso é utilizado como ponto de partida para concluir que sociedades desiguais como a brasileira são ambiente fértil para a ocorrência da chamada crise de legitimidade estatal. Por fim, mostra-se, a partir do filme Capitães da Areia e do livro homônimo, que a resistência ao abuso do poder estatal pode se dar tanto por meio da tradição religiosa quando da própria morte.

 

Contribuições: Aprofundam-se questões ainda pouco exploradas em âmbito nacional, como o problema da crise de legitimidade do Direito e do Estado nos quadros da tradição pragmática fundada por Niklas Luhmann. Exploram-se, ainda, conexões entre direito, política, religião, arte e problemas sociais (raça, pobreza etc.), o que confere ao texto dimensão transdisciplinar pouco frequente na literatura jurídica pátria. 


Palavras-chave


Direito; Poder; Resistência; Cinema; Capitães da Areia

Texto completo:

PDF

Referências


AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

ALMEIDA JR., José Alberto de. Um Candomblé em Fortaleza-CE (Mestrado em etnomusicologia – UECE/UFBA). Universidade Estadual do Ceará, 2002.

ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Educação e tradição: reflexões a partir de Hannah Arendt e Walter Benjamin. In: Revista Entreideias, Salvador, v. 4, pp. 106-119, jul./dez-2015.

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2003.

ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: Perspectiva, 2014.

AUSTIN, John. The Province of Jurisprudence Determined. New York: The Noonday Press, 1954.

BARROS, Elizabete Umbelino de. Línguas e linguagens nos candomblés de nação angola. Dissertação de Mestrado. USP: São Paulo, 2007.

BAUDRILLARD, Jean. O crime perfeito, trad.: Silvina Rodrigues Lopes, Lisboa: Relógio D’Água, 1996, p. 49.

BAUMAN, Zygmunt. Ética pós-moderna. São Paulo: Paulus, 1997.

BERNADET, Jean-Claude. O que é cinema? São Paulo: Brasiliense, 2006.

BERNADET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia. São Paulo: Annablume, 1995.

BARRAVENTO. Glauber Rocha, Brasil, 1962.

BRAGA, Adriana; Rodrigues, Adriano Duarte. “Pensamento sistêmico-ecológico: Luhmann, McLuhan, e o sujeito”, in: Questões Transversais – Revista de Epistemologias da Comunicação, vol. 6, n. 12, São Leopoldo (RS): UNISINOS, 2018, p. 63 - 71 (disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/questoes/article/view/18079).

CAPITÃES da Areia. Cecília Amado e Guy Gonçalves, Brasil, 2011.

CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Bahia: Martins Fontes, 1961.

CENTRAL do Brasil. Walter Salles, Brasil, 1998.

CHION, Michel. A audiovisão – som e imagem no cinema. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.

CUNHA, Paulo (org.). Relembrando o cinema pernambucano. Recife: Massangana, 2006.

DELEUZE, Gilles. “L’Immanence: une vie...”, in: Philosophie, n. 47, Paris, 1995, p. 4 - 7.

DÍAZ, Esther. “La ciencia después de la ciencia”, in: Id. (ed.), La Posciencia. El conocimiento científico en las postrimerías de la modernidad, Buenos Aíres: Biblos, 2000.

DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo: cinema 2. Lisboa: Assírio e Alvim, 2006.

DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento: cinema 1. Lisboa: Assírio e Alvim, 2009.

DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1978.

DWORKIN, Ronald. A matter of principle. Cambridge: Harvard University Press, 1985.

ESPOSITO, Roberto. Communitas: origine e destino della comunità, Turim: Einaudi, 1998.

FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Estudos de Filosofia do Direito: reflexões sobre o poder, a liberdade, a justiça e o Direito. São Paulo: Atlas, 2009.

FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo de direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 2001.

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul (orgs.). Michel Foucault – uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica (1982). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010b.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 2010a.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FRASER, Nancy. Foucault on Modern Power: empirical isights and normative confusions. In: Praxis International, 1(3), 1981. PP. 272-287KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

GUERRA FILHO, Willis Santiago. Autopoiese do Direito na Sociedade Informacional: Introdução a uma teoria social sistêmica. 2ª. ed., Rio de janeiro: Lumen Juris, 2018.

HART, Herbert L. A. The concept of law. London, 1961.

HART, Herbert L. Law in the perspective of philosophy: 1776-1976. New York University Law Review, n. 51, 1976.

HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

HONNETH, Axel. The critique of power – Reflective stages in critical social theory (1985). Translated by Kenneth Baynes. London: First MIT Pressed, 1991.

KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

KELSEN, Hans. Reine Rechtslehre. Wien: Springer, 1960.

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. J. Baptista Machado. Coimbra: Arménio Amado Ed., 1976.

KELSEN, Hans. Allgemeine Theorie der Normen. Wien: Manz, 1979.

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Rio de Janeiro: Vozes. 2001.

LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito I. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983.

LUHMANN, Niklas. “Läßt unsere Gesellschaft Kommunikation mit Gott zu?”, in: N. Luhmann, Soziologischer Aufklärung, vol. IV: Beiträge zur funktionalen Differenzierung der Gesellschaft, Opladen: Westdeutscher Verlag, 1987.

LUHMANN, Niklas. Die Wissenschaft der Gesellschaft, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1990.

LUHMANN, Niklas. A improbabilidade da comunicação. Lisboa: Veja, 1992.

LUHMANN, Niklas.¿Cómo es posible el orden social? México: Herder, 2009.

MACHADO, Veridiana Silva. O Cajado de Lemba: O tempo no candomblé de nação angola. Dissertação de Mestrado. USP: Ribeirão Preto, 2015.

MAUERHOFER, Hugo. A psicologia da experiência cinematográfica, in A Experiência do cinema: antologia (org. XAVIER, Ismail). Rio de Janeiro: Edições Graal/Embrafilme, 2008.

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2005.

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Werke. Berlin, 1956. v. 1.

NOZICK, Robert. Anarchy, State and utopia. New York, 1974.

OLIVEIRA, Mara Regina de. Cinema e Filosofia do Direito em diálogo (e-book). São Paulo: Edição do Autor, 2015.

OLIVEIRA, Mara Regina de. O Desafio à Autoridade da Lei: a relação existente entre poder, obediência e subversão. Rio de Janeiro: Corifeu, 2006.

RAWLS, John. A theory of justice. Oxford: The University Press, 1972.

SANTOS, Maria Stella de Azevedo (Mãe Stella de Oxóssi). Meu Tempo é Agora. São Paulo: Editora Oduduwa, 1993.

RAZ, Joseph. The authority of law. Essays on law and morality. Oxford: Clarendon Press, 1979.

SCHMITT, Carl. Teoría de la Constitución. Madrid: Alianza, 1982.

SCHMITT, Carl. Die Tyrannei der Werte. In: FS Forsthoff (Ebracher Studien). Berlin: 1967.

SIMMEL, Georg. “Excurso sobre o problema: como é possível a sociedade?”, trad. Lenin Bicudo Bárbara, in: Sociologia e Antropologia, vol. V, Rio de Janeiro, 2013, p. 653 – 672 (disponível em http://www.scielo.br/pdf/sant/v3n6/2238-3875-sant-03-06-0653.pdf).

SOLOVIEV, Vladimir Sergeyevich. “A Brief Tale about the Antichrist”, in: Id., Politics, Law, and Morality: essays. New Haven/Londres: Yale University Press, 2000.

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

TROPA de Elite. José Padilha, Brasil, 2007.

TROPA de Elite II: O inimigo agora é outro. José Padilha, Brasil, 2010.

VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás – Deuses iorubas na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2002.

VILLEY, Michel. A Formação do Pensamento Jurídico Moderno. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Untersuchungen. In: Werkausgabe. Frankfurt: Suhrkamp, 1991




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v2i74.5209

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.