ANTÍGONA E O REENCONTRO DO TEMPO: A HORA DO DIREITO

Luiz OOSTERBEEK

Resumo


Como na Antígona de Sófocles, a representação dos dias atuais desenrola-se como numa tragédia, com um prólogo (contextos de convergência), um párodo (o coro da sociedade intervém para introduzir ruturas com o passado recente e remoto), diversos episódios (agendas e caminhos distintos e contraditórios), estásimos (adaptação difusa à incerteza) e a expectativa de um epílogo, ainda apenas prenunciado mas não iniciado, de afirmação do primado do Direito sobre as leis.

Objetivo: discutir como os processos socioculturais que se observam no quadro da atual pandemia enunciam uma mudança de paradigma civilizacional, com implicações ainda dificilmente imagináveis em todos os domínios.

Metodologia: argumentação dialógica interdisciplinar, cruzando variáveis sociais, económicas e culturais, com base em bibliografia e estudos coordenados pelo autor.

Resultados: a pesquisa permitem identificar eixos de tensão e transformação nas sociedades atuais, que atravessam geografias, sistemas sociopolíticos e tradições culturais, embora ainda num quadro de grande incerteza. É possível identificar tendências, como a defesa da vida ou uma menor valorização de alguns valores, e a afirmação da saúde como foco de atenção na definição de estratégias, mas não existe ainda uma consolidação específica de qualquer dessas tendências. 

Contribuições: nas respostas adaptativas à pandemia verificou-se uma afirmação da vontade e opção individuais, que parece evidenciar um novo paradigma civilizacional, radicado na defesa da dignidade da pessoa humana. Assiste-se ao retomar do primado das agrapha nomoï, num debate de Justiça e Direito, para além das leis.

Palavras-chave: Pandemia; Direito; Civilização.

ABSTRACT

As in the Antigone of Sophocles, the representation of the present day unfolds as a tragedy, with a prologue (contexts of convergence), a page (the choir of society intervenes to introduce ruptures with the recent and remote past), several episodes (different and contradictory agendas and paths), is simos (diffuse adaptation to uncertainty) and the expectation of an epilogue,  still only foreshadowed but not initiated of affirmation of the rule of law over laws.

Objective: to discuss how the sociocultural processes observed in the context of the current pandemic enunciate a change of civilizational paradigm, with implications still hardly imaginable in all domains.  

Methodology: interdisciplinary dialogical argumentation, crossing social, economic and cultural variables, based on bibliography and studies coordinated by the author.

Results: of this research allow identifying axes of tension and transformation in current societies, which cross geographies, sociopolitical systems and cultural traditions, although still in a context of great uncertainty. It is possible to identify trends, such as the defense of life or a lower appreciation of some values, and the affirmation of health as a focus of attention in the definition of strategies, but there is still no specific consolidation of any of these trends.

Contributions:  the adaptive responses to the pandemic verified an affirmation of individual will and choice, which seems to evidence a new civilizational paradigm, rooted in the defense of the dignity of the human person. We see the resumption of the primacy of the agrapha nomoï, in a debate of Justice and Law, beyond the laws.

Keywords: Pandemic; Right; Civilization.

 

 


Palavras-chave


Pandemia; Direito; Civilização.

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DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v5i72.6246

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