CRENÇA E RESISTÊNCIA VERSUS EVIDÊNCIA: UMA POSSÍVEL HARMONIZAÇÃO CONSTRUCIONISTA NOS INTERCÂMBIOS DE COOPERAÇÃO DISCURSIVA PROCESSUAL PARA LEGITIMAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

Marcio PUGLIESI, Fabio Henrique SCAFF, Roberto Correia Da Silva Gomes CALDAS

Resumo


Objetivo: Tem-se, como propósito de estudo do processo judicial, uma abordagem cooperativa discursiva processual para um agir comunicativo, de cunho argumentativo-persuasivo, que permita a cognição eficaz e eficiente entre os concernidos e o julgador no iter da relação jurídica processual, a se estabelecer numa dinâmica procedimental orientada pela Teoria dos jogos sociais e sob um modelo construcionista semântico-pragmático, calcado em um critério objetivo tido a partir do Teorema do Minimax.

Metodologia: O método utilizado foi o construcionismo-sistêmico, com o emprego da técnica de abordagem documental e bibliográfica, conforme uma metodologia construcionista semântico-pragmática própria para se analisar as funções exercidas pela interação crença e resistência vs. evidência, pois de clara interdisciplinaridade que envolvem Filosofia e Epistemologia Jurídicas, Direito Constitucional e Direito Processual, entre outras ciências afins como a Semiótica, Matemática, Sociologia e Antropologia.

Resultados: Tendo-se o Direito visto como uma estrutura comunicativa de signos linguísticos cujos intercâmbios discursivos entre as atmosferas semântico-pragmáticas estão sócio historicamente situados, é possível ultrapassar-se a barreira da interação entre ceticismo/resistência por parte do julgador vs. evidência produzida pelas demais atmosferas semântico-pragmáticas, em seus distintos graus, em uma harmonização ao longo do processo (judicial litigioso discursivo).

Contribuições: O estudo aponta, segundo a metodologia adotada, a possibilidade de se contornar a barreira da interação entre crença e resistência vs. evidência, em seus distintos graus, na busca de uma harmonização construcionista ao longo da processualizada discussão litigiosa argumentativo-persuasiva, com o critério minimizador de prejuízos sendo visto como a melhor forma de aproximação dos interessados à solução da lide.

Palavras-Chave: Construcionismo semântico-pragmático. Teoria dos jogos sociais e Teorema do Minimax. Ceticismo/resistência versus evidência. Legitimidade e efetividade decisória democrática.

ABSTRACT

 

Objective: As a purpose of study of the judicial process, is a procedural discursive cooperative approach to a communicative action, of an argumentative-persuasive nature, which allows effective and efficient cognition between those concerned and the judge in the iter of the procedural legal relationship, to establish itself in a procedural dynamic guided by the Theory of social games and under a semantic-pragmatic constructionist model, based on an objective criterion taken from the Minimax Theorem.

Methodology: The method used was systemic constructionism, with the use of the technique of documentary and bibliographic approach, according to a semantic-pragmatic constructionist methodology proper to analyze the functions performed by the interaction belief and resistance vs. evidence, because of clear interdisciplinarity involving Legal Philosophy and Epistemology, Constitutional Law and Procedural Law among other related sciences such as Semiotics,  Mathematics, Sociology and Anthropology.

Results: The law seen as a communicative structure of linguistic signs which discursive exchanges between the semantic-pragmatic atmospheres are historically situated, it is possible to overcome the barrier of interaction between skepticism/resistance on the part of the judge vs. evidence produced by the other semantic-pragmatic atmospheres, in their different degrees, in a harmonization throughout the process (discursive litigious judicial).

Contributions: The study points out, according to the methodology adopted, the possibility of circumventing the barrier of interaction between belief and resistance vs.  evidence, in its different degrees, in the search for a constructionist harmonization throughout the proceduralized argumentative-persuasive litigious discussion, with the criterion minimizing losses being seen as the best way of approaching the stakeholders to the solution of the deal.

Keywords: Semantic-pragmatic constructionism. Social game theory and Minimax Theorem. Scepticism/resistance versus evidence. Legitimacy and democratic decision-making effectiveness.


Palavras-chave


Construcionismo semântico-pragmático; Teoria dos jogos sociais e Teorema do Minimax; Ceticismo/resistência versus evidência; Legitimidade e efetividade decisória democrática.

Texto completo:

PDF

Referências


AUSTIN, John Langshaw. How to do things with words. Oxford: Oxford, 1962.

BANNWART JÚNIOR, Clodomiro José; TESCARO JÚNIOR, João Evanir. Jürgen Habermas: teoria crítica e democracia deliberativa. Confluências. Niterói: PPGSD-UFF, vol. 12, n. 2, outubro de 2012, p.129-156.

BARROSO, Luís Roberto. Mudança da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em matéria tributária. Segurança jurídica e modulação dos efeitos temporais das decisões judiciais. RDE - Revista de Direito do Estado. Rio de Janeiro: Renovar, nº 2, abr./jun. 2006, p. 261-288.

BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós, 1998.

BLACK, Max. Modelos y metáforas. Tradução de Victor Sanchez de Zavala, Madrid: Tecnos, 1966.

BRITO, Ana Maria. Gramática: História, teorias, aplicações. Porto: Fundação Universidade do Porto – Faculdade de Letras, 2010.

CALDAS, Roberto Correia da Silva Gomes. O direito-garantia fundamental ao devido processo legal administrativo apenatório de trânsito: interpretação in bonam partem e retroatividade irrestrita da jurisprudência e legislação mais benéficas. RECHTD - Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito. v. 14, n. 1, 2022, p.119-156. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/614584 Acesso em: 15 nov. 2022.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 14ª ed., 2002.

CHOMSKY, Noam. Language and Mind. Cambridge: University Press. (2006 [1968]).

DOTTI, René Ariel; GOMES, Luiz Flávio. Execução provisória da pena logo após a decisão de 2º grau: irretroatividade da mudança jurisprudencial do STF desfavorável ao réu. Migalhas de Peso. Migalhas, 16 de maio de 2016 [n.p.]. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/243522/execucao-provisoria-da-pena-logo-apos-a-decisao-de-2--grau--irretroatividade-da-mudanca-jurisprudencial-do-stf-desfavoravel-ao-reu Acesso em: 01 abr. 2021.

GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do Direito. 5. ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

DUARTE, Inês Silva. Mudam-se os tempos, muda-se a gramática. In: BRITO, Ana Maria (org.). Gramática: história, teorias, aplicações (obra completa). Porto: FLUP, 2010, p. 11-28. Disponível em: https://ler.letras.up.pt/site/default.aspx?qry=id022id1334∑=sim Acesso em: 01 nov. 2022.

DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Tradução de Eduardo Guimarães. Campinas/SP: Pontes, 1987.

DUCROT, Oswald. Les mots du discours. Paris: Les Éditions de Minuit, 1980.

DUCROT, Oswald. Les lois de discours. In: Langue française - la pragmatique. DILLER, Anne-Marie; RÉCANATI, Francois et al. (org.). Paris: Larousse, n. 42, mai. 1979, p. 21-33.

DURANTE, Denise; SANTANA, Katiuscia Cristina. Reflexões acerca do princípio de cooperação discursiva: uma análise de anúncios publicitários do período pandêmico. REDIS - Revista de Estudos do Discurso. Porto (PT): CLUP-FLUP/ FFLCH-USP, nº 10, ano 2021, p. 99-123. Disponível em: https://ojs.letras.up.pt/index.php/re/article/view/10937/10011. Acesso em: 24 out. 2022.

DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 1994.

FOUCAULT, Michel. Las palabras y las cosas – una arqueología de las ciencias humanas. Tradução de Elsa Cecilia Frost. 2a. ed. rev. e cor. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2014.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2004.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1991.

GOLDBERG, Adele E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure. Chicago: Chicago, 1995.

GRECO FILHO, Vicente. O juiz e a lei. EDP - Estudos de Direito Público. São Paulo: Associação dos Procuradores do Município de São Paulo, ano VI, n. 1, jan./jun. 1987, p. 45-50.

GRICE, Herbert Paul. Logic and Conversation. In: Syntax and Semantics 3: Speech Acts. Cole, Peter; Morgan, Jerry L. (org.) Nova York: Academic Press, 1975, p. 41-58.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade (volume II). Tradução de Flávio Beno Siebeneicheler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

HABERMAS, Jügen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Tradução de Flávio Beno Siebeneicheler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.

HAYAKAWA, Samuel Ichiey. A linguagem no pensamento e na ação: como os homens usam as palavras e como as palavras usam os homens. Tradução de Olívia Krähenbühl. São Paulo: Pioneira, 1972.

HENRY, Paul. A ferramenta imperfeita: língua, sujeito e discurso. Tradução de Maria Fausta Pereira de Castro. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1992.

ISAIA, Cristiano Becker; HOFFMAM, Fernando. A jurisdição processual civil no Estado Democrático de Direito: verdades universais ou respostas corretas? Revista de Direito Brasileira. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, v. 3, n. 2, jul./dez. 2012, p. 157-176.

JAFFE, Raymond. The pragmatic conception of justice. Berkeley/Los Angeles: University of California Press, 1960.

LE MOIGNE, Jean-Louis. O construtivismo – vol. I – Dos fundamentos. Tradução de Miguel Mascarenhas. Lisboa: Piaget, 1999.

LEVINSON, Stephen C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge Press, 1983.

LIMA, Iara Menezes; MORAES, Anderson Júnio Leal. Subjetivismo na aplicação da máxima da proporcionalidade. Prisma Jurídico. São Paulo: UNINOVE, v. 12, nº 1, jan./jun. 2013, p. 253-274. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/prisma/article/view/3612/2524. Acesso em: 26 set. 2021.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-e-Silva e Décio Rocha. 6. ed. ampl. São Paulo: Cortez, 2018.

MAINGUENEAU, Dominique. Pragmatique pour le discours littéraire. Paris: Bordas, 1990.

MOUFFE, Chantal. Deliberative Democracy or Agonistic Pluralism? Social Research. Baltimore (USA): Johns Hopkins University Press, v. 66, n. 3, 1999, p. 745-758.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. O paradigma do resultado. In: CARLIN, Volnei Ivo (org.). Grandes temas do Direito Administrativo: homenagem ao Professor Paulo Henrique Blasi. Florianópolis: Millenium, 2009, p. 215-228.

MÜLLNER, Daniel. Modern hierarchical, agglomerative clustering algorithms in arXiv:1109.2378. Cornell University, v1 [stat.ML], 2011, p. 1-29. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1109.2378. Acesso em: 02 mar. 2020.

ÖSTMAN, Jan-Ola; FRIED, Mirjam. The cognitive grounding of constructional grammar. In: ÖSTMAN, Jan-Ola; FRIED, Mirjam. (ed.). Construction grammars: cognitive grounding and theoretical extensions. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2004, p. 1-13.

OTERO, Carlos-Pelegrín. Introduction: the third emancipatory phase of history. In: CHOMSKY, Noam. Language and politics. OTERO, Carlos-Pelegrín (org.). 2. ed. Oakland (CA): AK Press, 2004.

PATTEE, Howard Hunt. The physical basis and origin of hierarchical control. In: PATTEE, Howard H. (ed.). Hierarchy Theory: the challenge of complex systems. New York: George Braziller, 1973, p. 73-108.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni Pulcinelli Orlandi et al. 3. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2005.

PEREIRA, Carlos André Maciel Pinheiro; GÓES, Ricardo Tinoco de; BARROS, Thiago Maciel Pinheiro. A democracia deliberativa no Código de Processo Civil: uma aproximação com a teoria do agir comunicativo e do construtivismo lógico-semântico em prol da legitimidade conteudística. Revista Pensamento Jurídico - RPJ. São Paulo: FADISP, vol. 16, n. 2, maio/ago 2022, p. 192-218. Disponível em: https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/view/352/410. Acesso em: 27 out. 2022.

PLON, Michel. Análise do discurso (de Michel Pêcheux) vs. análise do inconsciente. In: INDURSKY, Freda; FERREIRA, Maria Cristina L. (org.). Michel Pêcheux e a análise do discurso: uma relação de nunca acabar. São Carlos: Clara Luz, 2005, p.33-50.

PUGLIESI, Márcio. Filosofia e Direito: delineamentos de Filosofia do Direito na Sociedade de Controle – volume 1. São Paulo: Aquariana, 2022a.

PUGLIESI, Márcio. Teoria Geral do Direito: uma abordagem sistêmico-construcionista. São Paulo: Aquariana, 2022b.

PUGLIESI, Márcio. Filosofia e Direito: uma abordagem sistêmico-construcionista. Chisinau: NEA - Novas Edições Academicas, 2021.

QUINE, Willard Van Orman. De um ponto de vista lógico: nove ensaios lógico-filosóficos. Tradução de Antonio Ianni Segatto. São Paulo: edUNESP, 2011.

RORTY, Richard. A Filosofia e o espelho da natureza. Tradução de Antônio Trânsito. Revisão técnica de Marco Antonio Casa Nova. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

SAATY, Thomas L. Mathematical principles of decision making: the complete theory of the analytic hierarchy process. Pittsburgh: RWS, 2010.

SIMON, Herbert A. Models of bounded rationality: vol. I - Economic analysis and public policy. Cambridge (MA): MIT Press Classic, 1982.

SEARLE, John R. Os actos de fala: um ensaio de filosofia da linguagem. Tradução de Carlos Vogt et alii, Coimbra: Almedina, 1981.

SIQUEIRA JUNIOR, Paulo Hamilton. Habeas data: remédio jurídico da Sociedade da Informação. In: PAESANI, Liliana Minardi (coord.). O Direito na Sociedade da Informação. São Paulo: Atlas, 2007, p.251-274.

SMITH, Barbara Herrnstein Crença e resistência: a dinâmica da controvérsia intelectual contemporânea. Tradução de Maria Elisa Marchini Sayeg. São Paulo: EdUNESP, 2002.

STRECK, Lenio Luiz. Súmulas no direito brasileiro – eficácia, poder e função: a ilegitimidade constitucional do efeito vinculante. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2ª ed., 1998.

TEMPO FREUDIANO ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA. O Seminário de Lacan: travessia – os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Freudiano, 2002.

TRIVINHO, Eugênio. Glocalização interativa, dromocracia informacional e espaço urbano: smart cities como último refúgio do imaginário tecnoutópico contemporâneo. Galáxia. São Paulo: PUC/SP, n. 45, set./dez. 2020, p. 48-61. Disponível em: https://www.scielo.br/j/gal/a/x8WDz6NPQczgJVPkYZdxZhN/?format=pdf〈=pt; https://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/49795/33167. Acesso em: 24 jun. 2021.

VANDERMERSCH, Bernard. Em que a ‘alienação’ e a ‘separação’ permitem que se retome em outra forma a relação do sujeito com o significante e com o objeto. In: TEMPO FREUDIANO ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA. O Seminário de Lacan: travessia – os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Freudiano, 2002, p. 33-49.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Grammar. Rush Rhees (org.). Tradução de Anthony Kenny. Oxford: Oxford, 1978.

ZIEM, Alexander. Frames und sprachliches Wissen. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v5i72.6287

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.