CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA E A AMEAÇA AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PRIVACIDADE E DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Abstract
Objetivo: Analisa-se o capitalismo de vigilância, sob a perspectiva de Shoshana Zuboff, sua relação com a cultura da vigilância e as consequências dessa nova política econômica para os direitos fundamentais - privacidade e liberdade de expressão -, atentando para as possíveis medidas de proteção desses direitos face aos abusos que permeiam as plataformas digitais.
Metodologia: Aplicou-se o método normativo-dedutivo, fundado em revisão bibliográfica nacional e estrangeira, com estudo comparado dos instrumentos jurídicos que discutidos ou utilizados no Brasil, Estados Unidos e União Europeia.
Resultados: A cultura de vigilância e o capitalismo que dela decorre por meio da exploração de big data, expõe a necessidade de se estabelecer transparência por parte das grandes empresas que investem nesse setor. Demanda também legislações que protejam os dados, impeçam o abuso da liberdade de expressão e a disseminação de desinformação intencional.
Contribuições: Aponta-se as facilidades advindas da revolução digital, os riscos decorentes de seu uso e a possibilidade de manipulação dos comportamentos consumeristas, políticos e sociais. Diante da existência do capitalismo baseado na mercancia de dados - capitalismo de vigilância -, a conscientização do público é imprescindível para proteger a liberdade e a privacidade das pessoas. Educação (alfabetização) digital e elaboração de normativas transparentes são meios de limitar o poder das plataformas de mídia digital e impedir que o interesse econômico se sobreponha ao interesse humano.
Palavras-chave: Capitalismo de vigilância. Direitos fundamentais. Direito à privacidade. Direito à liberdade de expressão. Legislação.
ABSTRACT
Objective: Surveillance capitalism is analyzed, under the perspective of Shoshana Zuboff, its relationship with the culture of surveillance and the consequences of this new economic policy for fundamental rights - privacy and freedom of speech -, paying attention to possible protection measures these rights in the face of the abuses that permeate digital platforms.
Method: The normative-deductive method was applied, based on a national and foreign bibliographic review, with a comparative study of the legal instruments that were discussed or used in Brazil, the United States and the European Union.
Results: The culture of surveillance and the capitalism that results from it through the exploitation of big data, exposes the need to establish transparency on the part of the large companies that invest in this sector. It also demands legislation that protects data, prevents the abuse of freedom of speech and the spread of intentional misinformation.
Contributions: It points out the facilities arising from the digital revolution, the risks arising from its use and the possibility of manipulating consumerist, political and social behaviors. Given the existence of capitalism based on data merchandising - surveillance capitalism - public awareness is essential to protect people's freedom and privacy. Digital education (literacy) and the development of transparent regulations are ways of limiting the power of digital media platforms and preventing economic interest from overlapping human interest.
Keywords: Surveillance capitalism. Fundamental rights. Right to privacy. Freedom of speech. Legislation.
Schlagworte
Volltext:
PDF (Português (Brasil))Literaturhinweise
BANISAR, David. National Comprehensive Data Protection/Privacy Laws and Bills 2019. 30 nov. 2019, atualizado: 05 dez. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2020.
BAUMAN, Zygmunt. Babel: entre incerteza e a esperança. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
BRANDZ. Top 100 most valuable global brands 2019 report. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28 nov. 2020.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: . Acesso em 27 jun. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: . Acesso em: 30 mai. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 130 Distrito Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Lei de imprensa. [...]. Regime constitucional da "liberdade de informação jornalística", expressão sinônima de liberdade de imprensa. A "plena" liberade de imprensa como categoria jurídica proibitiva de qualquer tipo de censura prévia. [...]. Peculiar fórmula constitucional de proteção a interesses privados que, mesmo incidindo a posteriori, atua sobre as causas para inibir abusos por parte da imprensa. Proporcionalidade entre liberdade de imprensa e responsabilidade civil por danos morais e materiais a terceiros. [...]. A imprensa como instância natural de formação da opinião pública e como alternativa à versão oficial dos fatos. Proibição de monopolizar ou oligopolizar órgãos de imprensa como novo e autônomo fator de inibição de abusos. [...]. Não recepção em bloco da Lei nº 5.250/1967 pela nova ordem constitucional. Efeitos jurídicos da decisão. Procedência da ação. Relator: Ministro Carlos Britto, 30 de abril de 2009. Disponível em: . Acesso em: 27 jun. 2020.
DONATI, Filippo. Fake news e libertà di informazione. MediaLaws - Rivista di diritto dei media, Itália, 2/2018, maggio, p. 440-6, 25 jun. 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2020.
EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. Trad. Arnaldo Bloch. São Paulo: Vestígio, 2019.
GAMBARO, Adele et al. Disegno di Legge n. 2688/2017. Disposizioni per prevenire la manipolazione dell'informazione online, garantire la trasparenza sul web e incentivare l'alfabetizzazione mediatica. Senato della Repubblica, 28 fev. 2017. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2020.
GLOBAL NETWORKING INICIATIVE (GNI). About GNI. 2020. Disponível em: . Acesso em: 19 set. 2020.
GROHMANN, Rafael. Financeirização, midiatização e datatificação como sínteses sociais. Mediaciones de la Comunicación, Montevideo, v. 14, n. 2, p. 97-117. Disponível em: . Acesso em: 21 jun. 2020.
GURUMURTHY, Anita; BHARTHUR, Deepti. Democracy and the algorithmic turn: Issues, challenges and the way forward. SUR 27, v. 15, n. 27, p. 41-52, 2018. Disponível em: . Acesso em: 15 set 2020.
ITÁLIA. Codice Penale. Edizione Aggiornata al 25 ago. 2017. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2020.
ITÁLIA. Constituição da República Italiana de 1947. Senato della Repubblica, Costituzione Italiana Edizione In Lingua Portoghese, [2018]. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2020.
ITÁLIA. Decreto Legislativo 9 aprile 2003, n. 70. Attuazione della direttiva 2000/31/CE relativa a taluni aspetti giuridici dei servizi della società dell'informazione nel mercato interno, con particolare riferimento al commercio elettronico. Gazzetta Ufficiale, Supplemento Ordinario n. 61, n. 87 del 14 aprile 2003. Disponível em: . Acesso em 24 set 2020.
JØRGENSEN, Rikke Frank. Rights Talk: In the Kingdom of Online Giants. In: JØRGENSEN, Rikke Frank (ed.). Human rights in the age of platforms. Cambridge, MA: MIT Press, 2019. p. 163-87.
LEMOS, Ronaldo. Contra fake news, siga o dinheiro. Folha de S.Paulo, 24 mai. de 2020. Disponível em: . Acesso em: 24 mai. 2020.
LÔBO, Edilene; MOREIRA, Pedro Henrique Costa e. Fake News e autenticidade das eleições brasileiras. In: OLIVEIRA, Armando Albuquerque de et al. (coords.). Teoria da democracia e da filosofia do estado e direito constitucional. Zaragoza: Prensas de la Universidad de Zaragoza, 2019. p. 285-300.
LYON, David. Surveillance capitalism, surveillance culture and data politics. In: BIGO, Didier; ISIN, Engin; RUPPERT, Evelyn (ed.). Data Politics: Worlds, Subjects, Rights. Abingdon: Routledge, 2019. p. 64-77. Disponível em: . Acesso em: 1 set. 2020.
MANHEIM, Karl; KAPLAN, Lyric. Artificial Intelligence: Risks to Privacy and Democracy. 21 Yale Journal of Law and Technology 106, 2019.
MELLO, Patrícia Campos. Lei de fake news será 'tornozeleira eletrônica' para milhões de pessoas, diz diretor do WhatsApp. Folha de S. Paulo, 22 de jun. de 2020. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2020.
MONTI, Matteo. The new populism and fake news on the Internet: how populism along with Internet new media is transforming the Fourth Estate. Stals Research Paper 4, 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2020.
O DILEMA das Redes. Direção: Jeff Orlowski. Estados Unidos: Netflix, 2020.
PRIVACIDADE Hackeada. Direção: Karim Amer e Jahane Noujaim. Roteiro: Karim Amer e Pedro Kos. Estados Unidos, 2019. Distribuidor: Netflix. Documentário, 1h 50min.
PORTAL DA PRIVACIDADE. Os 10 Princípios para o Tratamento de Dados Pessoais. 19 jul. 2018. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2020.
RAINIE, Lee; ANDERSON, Janna. The future of privacy: digital life in 2025. Dec. 18, 2014. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2020.
SAMPAIO, José Adércio Leite; FURBINO, Meire; MENDIETA, David. La Declaración Universal de Derechos Humanos en Espacios Digitales: una necesidad en los tiempos cibernéticos. Revista Juridica, [S. l.], v. 4, n. 61, p. 30-69, oct. 2020. Disponible en: . Consultado en: 29 nov. 2020. doi: http://dx.doi.org/10.21902/revistajur.2316-753X.v4i61.4451
SARAIVA, Camila Gonçalves; MARES, Daniele Aparecida Gonçalves Diniz. O discurso de ódio e a recusa aos fatos: Fake news nas eleições brasileiras. In: LÔBO, Edilene; OMMATI, José Emílio Medaur (coords.). Processo Eleitoral e Estado de Direito: Diálogos sobre democracia e política. Belo Horizonte: Conhecimento, 2019. p. 21-44.
SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da (orgs.). A sociedade de controle: manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018.
SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Cambridge, UK-Malden, MA: Polity, 2016.
SUZOR, Nicolas. Digital constitutionalism: Using the rule of law to evaluate the legitimacy of governance by platforms. Social Media+ Society, v. 4, n. 3, 2018. https://doi.org/10.1177/2056305118787812
TENOVE, Chris et al. Digital Threats to Democratic Elections: How Foreign Actors Use Digital Techniques to Undermine Democracy. Centre for the Study of Democratic Institutions, UBC, 2018. http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3235819
UNIÃO EUROPEIA. Directiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 8 de Junho de 2000 relativa a certos aspectos legais dos serviços da sociedade de informação, em especial do comércio electrónico, no mercado interno (Directiva sobre o comércio electrónico). Parlamento Europeu, Conselho da União Europeia, 8 jun 2000. Disponível em: . Acesso em: 23 set 2020.
UNIÃO EUROPEIA. Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados 2016/679. Relativo à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados e que revoga a Diretiva 95/46/CE (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados). Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, 27 abr. 2016. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2020.
SADOWSKI, Jathan. When data is capital: datafication, accumulation, and extraction. Big Data & Society, p. 1-12, jan.-jun. 2019. Disponível em: . Acesso em 21 set. 2020.
VIEIRA, Alessandro. Projeto de Lei nº 2630, de 2020. Institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Disponível em: . Acesso em: 26 jun. 2020.
WARDLE, Claire; DERAKHSHAN Hossein. Information Disorder: Toward an Interdisciplinary Framework for Research and Policy Making. Strasbourg: Council of Europe, 2017. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2020.
ZUBOFF, Shoshana. Big other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In: BRUNO, F. et al. (orgs.). Tecnologias da vigilância: perspectivas da margem. Trad. H. M. Cardozo et al. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 17-68.
DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v1i63.5135
Refbacks
- Im Moment gibt es keine Refbacks
Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X
Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181