ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL: EVOLUÇÃO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

Renata Albuquerque LIMA, Átila de Alencar Araripe MAGALHÃES, Iza Angélica Gomes CEDRO

Resumo


Objetivo: Este trabalho busca, com foco na atividade antrópica sobre o meio ambiente, e suas perspectivas político-jurídicas, situar a discussão sobre a crise da modernidade expressa através de questões sociais globais acerca da “sociedade de risco”, discutindo a repercussão das mudanças ambientais que demonstram profundas consequências na dinâmica global dos processos político-econômicos e especialmente sobre a atuação do Estado através da consequente (e necessária) reformulação de suas teses jurídicas, em uma tendência mundial de inclusão dos direitos de proteção ambiental como objetivos dos Estados Constitucionais. O Estado de Direito Ambiental é, pois, um aperfeiçoamento das noções clássicas do “Estado de Direito”, não se traduzindo em superá-lo, mas ampliá-lo ao incorporar o “ambiente saudável” em seus objetivos e paradigmas de funcionamento e cumprimento. 

Metodologia: Este estudo visa percorrer a problemática ambiental por meio da técnica de pesquisa exploratória, concentrando-se na pesquisa bibliográfica, com a verificação e o aprofundamento das doutrinas relacionadas ao assunto.

Resultados: 1) O cenário de mudanças que se apresenta (Holoceno-Antropoceno no cenário de incertezas) deve ter como fim promover a justiça ambiental e o desenvolvimento sustentável com foco nos princípios da precaução e da prevenção; 2) O Estado Democrático visa concretizar direitos fundamentais tutelados, ao mesmo tempo em que busca restaurar direitos fundamentais violados em escala de tempo intergeracional; 3) Constata-se a existência de fortes lacunas na implementação legislativa concernente à temática ao compreender o elemento humano como fator fundamental que dirige e implementa o processo de mudança; 4) Verifica-se a formação de uma nova cidadania, que compreende a dinâmica e os impactos da crise ambiental, e exige-se a busca da qualidade de vida, a partir da adoção de políticas públicas de caráter ambiental; 5) Por fim, observam-se questões controversas acerca do direito coletivo. 

Contribuições: O presente estudo aborda temática eminentemente atual e relevante nas discussões doutrinárias que é a consequente remodelação das bases estruturais da Ciência Jurídica que, ao incorporar elementos de limitação das liberdades frente aos bens ecológicos, traz conceitos inovadores aos institutos clássicos, com o fortalecimento da sociedade civil e proposta de construção de um novo paradigma de desenvolvimento, fundado no princípio da sustentabilidade, de forma a construir alternativas à crise ambiental em cursopreservando as conquistas experienciadas em momentos anteriores e aprofundando-as para incorporar novos direitos fundamentais. 

Palavras-chave: Estado de Direito Ambiental. Legislação Ambiental. Responsabilidade ecológica.

 

ABSTRACT

Objective: This work seeks, focusing on anthropic activity on the environment, and its political-legal perspectives, to situate the discussion on the crisis of modernity expressed through global social questions about the “risk society”, discussing the repercussion of environmental changes that demonstrate profound consequences on the global dynamics of political-economic processes and especially on the performance of the State through the consequent (and necessary) reformulation of its legal theses, in a worldwide trend of including environmental protection rights as objectives of Constitutional States. The Environmental Rule of Law is therefore an improvement of the classic notions of the "Rule of Law", not meaning overcoming it, but expanding it by incorporating the "healthy environment" in its objectives and paradigms of operation and compliance.

Methodology: This study aims to cover the environmental issue through the technique of exploratory research, focusing on bibliographic research, with the verification and deepening of the doctrines related to the subject.

Results: 1) The changing scenario that is presented (Holocene-Anthropocene in the scenario of uncertainty) should aim to promote environmental justice and sustainable development with a focus on the principles of precaution and prevention; 2) The Democratic State aims to materialize protected fundamental rights, while seeking to restore fundamental rights violated on an intergenerational time scale; 3) There are strong gaps in the legislative implementation regarding the theme when understanding the human element as a fundamental factor that directs and implements the change process; 4) We observe the formation of a new citizenship, which understands the dynamics and impacts of the environmental crisis, and the search for quality of life is required, based on the adoption of public policies of an environmental nature; 5) Finally, there are controversial issues about collective law.

Contributions: The present study addresses an eminently current and relevant theme in doctrinal discussions, which is the consequent remodeling of the structural bases of Legal Science, which, by incorporating elements of limitation of liberties in relation to ecological goods, brings innovative concepts to classic institutes, with the strengthening of civil society and proposal to build a new development paradigm, based on the principle of sustainability, in order to build alternatives to the ongoing environmental crisis, preserving the achievements experienced in previous moments and deepening them to incorporate new fundamental rights.

Keywords: State of Environmental Law. Environmental legislation. Ecological responsibility.


Palavras-chave


Estado de Direito Ambiental; Legislação Ambiental; Responsabilidade ecológica

Texto completo:

PDF

Referências


ARAGÃO, Alexandra. O Estado de Direito Ecológico no Antropoceno e os Limites do Planeta. In: Estado de Direito Ecológico: Conceito, Conteúdo e Novas Dimensões para a Proteção da Natureza./ Flávia França Dinnebier (Org.); José Rubens Morato (Org.); - São Paulo : Inst. O direito por um Planeta Verde, 2017. 924 pp.: Il.: ISBN 978-85-63522-41-2

ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?. Revista USP, São Paulo, n 103, p. 13-24, ano 2014. Disponível em http://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/7488. Acesso em 27 ago 2020.

BARREIRO, Virginia. The Cost of Conflict in Oil Palm in Indonesia, Jakarta: Kadin Indonesia, 2016. Disponível em http://conflictresolutionunit.id/en/activities/research/detail/1. Acesso 01 set 2020.

BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. 2. Ed. São Paulo: 34, 2011.

BELCHIOR, Germana Parente Neiva. Fundamentos Epistemológicos do Direito Ambiental. Germana Parente Neiva Belchior, orientador, José Rubens Morato Leite - Florianópolis, SC, 2015, 300 p - Tese (doutorado) -UFSC, Centro de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito.

BIANCHI, Patrícia Nunes Lima. A (in)Eficácia do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no Brasil. 2007. 513 f. Tese (Doutorado em Estado, Direito e Sociedade) –Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. p. 18

BOSSELMANN, Klaus. The Rule of Law Grounded in the Earth: Ecological integrity as a grundnorm. In: Planetary Boundaries Initiative Symposium 19&20 September 2013. Charles Darwin House, London, 2013. Disponível em http://planetaryboundariesinitiative.org/wp-content/uploads/2013/10/Rule-of-Law-paper-London-Bosselman.pdf. Acesso em 01 set 2020.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. FGV Repositório Digital, 2006. Disponível em https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1973/TD157.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 29 ago 2020.

______. Desenvolvimento, progresso e crescimento econômico. Lua Nova, São Paulo, n. 93, p. 33-60, dez 2014. Disponível em . Acesso em 27 ago 2020. https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000300003.

BROWN, Edtih Weiss. “The Evolution of International Environmental Law.” Georgetown: Japanese Yearbook of International Law, n 54, p. 1-27, 2011. Disponível em https://scholarship.law.georgetown.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2684&context=facpub. Acesso em 15 ago 2020.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada. In: FERREIRA, Heline Sivini; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Estado de Direito Ambiental: tendências - aspectos constitucionais e diagnósticos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p. 3-16, 2004.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O Princípio da sustentabilidade como Princípio estruturante do Direito Constitucional. Tékhne, Barcelos , n. 13, p. 07-18, jun. 2010 . Disponível em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-99112010000100002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 28 ago 2020.

CAROTHERS, Thomas. “The Rule of Law Revival.” Foreign Affairs, mar/abr 1998. Disponível em https://www.foreignaffairs.com/articles/1998-03-01/rule-law-revival. Acesso em 12 ago 2020.

CRUTZEN, Paul Jpsef. Geology of mankind. Nature, Washington, v. 415, n. 6867, jan 2002. Disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v415/n6867/full/415023a.html. Acesso em: 04 out 2020.

DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO. Estud. av., São Paulo , v. 6, n. 15, p. 153-159, Ago. 1992 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141992000200013&lng=en&nrm=iso Acesso em 28 ago 2020.

EUROPEAN COMMISSION. The EU Environmental Implementation Review (EIR) Package: Common Challenges and How to Combine Efforts to Deliver Better results, 2017 Disponível em http://ec.europa.eu/environment/eir/pdf/full_report_en.pdf. Acesso em 12 ago 2020.

FACCHIN, Luís Edson. Reflexões sobre Risco e Hiperconsumo. In: OLIVEIRA, Jarleti Gonçalves; XAVIER, Luciana Pedroso (Org). Repensando o Direito do Consumidor III: 25 anos de CDC: conquistas e desafios. Coleção Comissões, vol XIX. Curitiba: OABPR. 2015, 423 p.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra e Cultura de Sustentabilidade. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa , n. 6, p. 15-29, 2005 . Disponível em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-72502005000200002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 29 ago. 2020.

GLOBAL WITNESS. Deadly Environment: The Dramatic Rise in Killings of Environmental and Land Defenders. London, 2014. Disponível em http://globalinitiative.net/wp-content/uploads/2017/12/Global-Witness-Deadly-Environment-June-2014.pdf. Acesso em 14 ago 2020.

______. Defenders of the Earth. London, 2017. Disponível em https://www.globalwitness.org/en/campaigns/environmental-activists/defenders-earth/. Acesso em 14 ago 2020.

GUIVANT, Julia Silva. Reflexividade na sociedade de risco: conflitos entre leigos e peritos sobre os agrotóxicos. In: HERCULANO, S. C.; FREITAS, C. M.; PORTO, M. F. S. (Org.). Qualidade de vida e riscos ambientais. Niterói: EdUFF, 2000.

HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 3 edª, 2002.

IUCN World Environmental Law Congress, 1, 2016, Rio de Janeiro. IUCN World Declaration on the Environmental Rule of Law, 2016. Disponível em https://www.iucn.org/sites/dev/files/content/documents/english_world_declaration_on_the_environmental_rule_of_law_final.pdf. Acesso em 01 set 2020.

KLOEPFER, Michael. A caminho do Estado Ambiental? A transformação do sistema político e econômico da República Federal de Alemanha através da proteção ambiental especialmente desde a perspectiva da ciência jurídica. In SARLET, Ingo Wolfgang. Estado socioambiental e direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

LEITE, José Rubens Morato; PILATI, Luciana Cardoso; JAMUNDÁ, Woldemar. Estado de direito ambiental no Brasil. In: KISHI, Sandra Akemi Shimada; SILVA, Solange Teles da; SOARES, Inês Virginia. Desafios do Direito Ambiental no Século XXI: estudos em homenagem a Paulo Afonso Leme Machado. São Paulo: Malheiros, 2005.

______, José Rubens Morato. Sociedade de risco e estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, p. 136-204, 2007.

______, José Rubens Morato; CAETANO, Matheus Almeida. Breves reflexões sobre os Elementos do Estado de Direito Ambiental Brasileiro. In: LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Heline Sivini; CAETANO, Matheus Almeida (org). Repensando o estado de direito ambiental. Florianópolis: Fundação Boiteux, p. 49-88, 2012. (Pensando o Direito no Século XXI; v.3).

______,José Rubens Morato; SILVEIRA, Paula Galbiatti; BETTEGA, Belisa; O Estado de Direito para a Natureza: Fundamentos e Conceitos. In: LEITE,José Rubens Morato; DINNEBIER, Flávia França. (org.) Estado de Direito Ecológico: Conceitos e Novas Dimensões para a Proteção da Natureza. São Paulo: Instituto O direito por uma Planeta Verde, p. 57-87, 2017.

LIMA, Átila de Menezes. Revista Formação (ONLINE). Vol. 24; n.43, set-dez/2017. p. 43-63. ISSN: 2178- 7298. ISSN-L: 1517-543X. ISSN: 2178-7298. ISSN-L: 1517-543X

LIPOVETSKY, Gilles. Tempos Hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.

______. A Felicidade Paradoxal. Ensaio sobre a Sociedade de Hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

MORIN, Edgar; MOIGNE, Jean-Louis Le. A Inteligência da Complexidade. São Paulo: Peirópolis, 2000.

______, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Tradução de Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2003.

ONU. Roteiro para a Localização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Implementação e Acompanhamento no nível subnacional. PNUD e pela ONU-Habitat, 2016. Tradução: ONUBR. Disponível em https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2017/06/Roteiro-para-a-Localizacao-dos-ODS.pdf. Acesso em 20 ago 2020.

ONU. Environmetal rule of Law - First Global Report. ONU-Environment, 2019. Disponível em https://www.unenvironment.org/resources/assessment/environmental-rule-law-first-global-report. Acesso em 20 ago 2020.

SOUTO, Raquel Dezidério. O papel da geografia em face da crise ambiental. Estud. av., São Paulo, v. 30, n. 87, p. 197-212, Ago 2016. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142016000200197&lng=en&nrm=iso. Acesso em 06 fev. 2020.

PUREZA, José Manuel. O estatuto do ambiente na encruzilhada de três rupturas. Coimbra, Centro de Estudos Sociais, n. 102, p. 1-30, dez. 1997.

RACHED, Danielle Hanna. Interfaces entre o Regime Internacional de Mudança Climática e a Saúde Global. Lua Nova, São Paulo , n. 98, p. 231-254, Aug. 2016. Available from . Acesso em 14 Fev. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/0102-6445231-254/98.

ROCKSTRÖM, Joseph et al. A Safe Operating Space for Humanity. Nature, Washington, v. 461, n. 7263, p. 472-475. Disponível em https://www.nature.com/articles/461472a. Acesso em 18 set 2020.

SILVA, Altieres Oliveira et al. Elaboração do Resumo Estruturado Como Recurso na Disseminação Científica: Um Breve Roteiro. International Journal of Professional Business Review, São Paulo, v. 5, n. 2, p. IV-VIII. doi:http://dx.doi.org/10.26668/businessreview/2020.v5i2.215.

UNEP- International Advisory Council for Environmental Justice. Environmental Rule of Law: Critical to Sustainable Development. Maio 2015. Disponível em http://wedocs.unep.org/bitstream/handle/20.500.11822/10664/issue-brief-erol.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 01 ago 2020.

WALTERS, Carl. Adaptive Management of Renewable Resources. New York: Macmillan Publishing Company, 1986. ISBN 0-02-947970-3. Disponível em http://pure.iiasa.ac.at/id/eprint/2752/1/XB-86-702.pdf. Acesso em 01 set 2020.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v4i61.4444

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.