UMA NOVA ERA: A SOCIEDADE DE ESPETÁCULO DE SENTIDO ÚNICO DÁ LUGAR A UMA SOCIEDADE IMATERIAL LIVREMENTE LIGADA

PEDRO FRANCO DE LIMA

Resumen


OBJETIVOS DO TRABALHO:

 

Ao olhar a realidade através dos olhos da ideologia, podemos inclusive nos tornar micro tiranos em nossas próprias residências. Se olharmos desta forma automaticamente estaremos condenados a uma cegueira, em comunhão com aqueles que partilham da mesma visão.

Neste mundo pós-moderno a humanidade digital se apresenta como duas palavras que não aparecem em oposição, porém quando se apresenta, se materializa interfere na vida da sociedade e nas suas escolhas.

Deve-se, portanto, mergulhar nesta realidade transformativa que o mundo digital tem na humanidade, buscando no aprendizado uma forma ética de convivência. O digital requer novos desenvolvimentos, novos projetos, novos conhecimentos, novas competências que merecem ser transmitidas, onde a cultura digital deve ser transmitida como uma cultura ampla que nos permite entender os desafios e potencialidades do digital, da internet e da web como um todo.

Com o intuito de apresentar um potencial ético transformador desenvolvemos a pesquisa, tendo como objetivo principal verificar em que medida as pessoas estão preparadas eticamente para viver na sociedade digital.

 

METODOLOGIA UTILIZADA:

 

Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada pesquisa bibliográfica, em especial através de livros, artigos de periódicos e artigos científicos, através do método teórico-bibliográfico, sendo que para a abordagem do tema foi utilizado o método dedutivo e dialético.

Aduzida pesquisa tentará demonstrar que nesta nova era, onde a sociedade de espetáculo dá lugar a uma sociedade imaterial, a ressignificação do comportamento ético e moral pode ser o resgate dos valores necessários para a existência de um mundo pós-moderno mais humanizado.

 

REVISÃO DE LITERATURA:

 

 Quando Guy Debord escreveu a obra “A sociedade do Espectáculo” no final da década de 60 do século passado ele questionava de forma incisiva a unificação do espetáculo e a proletarização do mundo.

Na era pós-moderna, surgida a partir da metade do século passado, várias mudanças ocorreram no cenário mundial, com destaque para a implementação de técnicas de controle, técnicas de manipulação em massa, sendo que as ideias iluministas ficaram afastadas.

Neste novo sistema globalizante, onde o Brasil está inserido há a imposição à sociedade pós-moderna de determinados costumes, estilos de vida, modo de conduta em grupos, e, sobretudo o estabelecimento de caminhos pré-determinados.

A realidade do espetáculo está comprometida em impulsionar vendas, envolvendo o apelo cientificamente calculado aos sentidos (à visão, sobretudo) e os desejos e vontades do consumidor, “transfigurando o comércio moderno numa verdadeira tecnocracia da sensualidade.” (FREIRE FILHO, p. 40, 2003)

Porém a realidade pós-moderna apresenta uma nova era, alicerçada na substituição da sociedade de espetáculo de sentido consumerista para uma sociedade imaterial livremente ligada e conectada.

Esta nova realidade impõe ao ser humano o empreendedorismo de si mesmo, ou seja “homem de desempenho” conforme desta Byung-Chul Han em sua obra sobre a Sociedade do Cansaço. Esta nova sociedade, segundo o autor tem no poder ilimitado o verbo modal positivo, sendo que no lugar de proibições, mandamentos ou leis, entram projeto, iniciativa e motivação. Portanto, a “positividade do poder é bem mais eficiente que a negatividade do dever.” (HAN, p. 24, 2017).

Essa vida ativa com o uso intenso das novas tecnologias transforma o ser humano, fazendo com que se apresente nas redes sociais diferente da vida real, uma vez que em seu perfil demonstra uma imagem que é construída e trabalhada em todos os sentidos.

articulada com qualquer outro campo além das tecnologias, como arte, educação, filosofia, sociologia, entre outras. Face a esta realidade a cultura digital, consegue maximizar todos estes campos do conhecimento, estando eles em qualquer lugar, uma vez que não se fecha para seu entorno, tornando-se desta forma o grande desafio da sociedade pós moderna. (MEC, p. 11, 2021)

Este novo conhecimento baseia-se essencialmente na codificação do conhecimento transmitido pelas tecnologias da informação. A codificação do conhecimento em geral converteu-o em conteúdo reproduzível, como por exemplo, um manual impresso ou programa de computador, sendo que classicamente, permite-se que seja armazenado fora e externalise a memória.

Tendo como norte a filosofia ética cristã do Papa Francisco e a modernidade líquida de Bauman é fácil perceber que vivemos em uma aldeia global onde o que efetivamente se mostra é uma tele realidade, onde está em evidência o descartável, a permutabilidade e a exclusão, tendo como efeito colateral uma humanidade sem valor, em face da qual a resposta correta não deveria ser a emoção, mas a conscientização e a liberdade de dizer, sou o guardião do meu irmão.

Para Bauman a solução está em acreditar no potencial humano para que a construção de um mundo melhor seja possível. Há, portanto a necessidade de desconstruir, desmistificar, desacreditar em falsos valores dominantes e suas estratégias, “mostrando que em vez de assegurarem uma sociedade de vida superior, constituem um obstáculo para a construção possível de uma nova realidade social. (SÁ; RETZ, p. 88, 2015)

Mas o mundo digital prova que apesar deste hiperconhecimento há uma sensação de abandono, mas também há sempre muitas vantagens. Este paradoxo é materializado na obra de Zuboff “A Era do Capitalismo de Vigilância”, onde aduz que o mundo digital nos traz um mundo mercantil, onde o que prepondera nas redes é um conjunto de empresas a serviço do “capitalismo de vigilância”. A autora apresenta um conceito de tirania e uma produção, onde todos são tratados como insignificantes, tornando no mundo digital todos insignificantes. (ZUBOFF, 2020)

Para Harari “num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder...” (HARARI, p. 15, 2018). Devemos entender que quem investe quer retorno, porém, em que medida estou disposto a usar uma plataforma que vende meus dados? Essa é uma questão de ética e legalidade, pois a opção em acordar com a exploração dos meus dados é algo inerente ao meu livre arbítrio.

Estamos no momento da desregulamentação, onde a liberdade individual está se sobrepondo a coletividade, havendo a necessidade de reavaliação. Para Bauman, esta ressignificação deve ser feita através da espontaneidade, da vontade, da busca individual. Os problemas da pós-modernidade advém de “uma espécie de liberdade de procura do prazer, que tolera uma segurança individual pequena demais.” Esclarece ainda que esta reavaliação dos valores, embora seja um momento feliz, não garante necessariamente um “estado de satisfação” (cf. BAUMAN, 19998, Introdução).

Toda esta realidade é impactante, mas associado a isso emerge a globalização da solidariedade. Quando às mazelas se tornam normais não nos impactam, pois se eu não me emociono, sem me mobilizar, não tenho compromisso e por consequência não tenho partilha.

Porém, se conhecemos perdemos o medo e passamos a julgar, devendo o conhecimento ser a arma da mudança da sociedade e de nós próprios. O conhecimento deveria ser o veículo central para comunicação política, vida social, econômica e relacional, porém esta realidade digital desvia o foco das atenções via internet.

Para uma ressignificação ética no ambiente digital deve haver uma reaproximação da linguagem transformativa, aproximando os transmissores da mensagem e, por consequência, da conversa. Certo é que o diálogo foi substituído pelo comunicado, estando agora presente na sociedade.

Verifica-se que o narcisismo está elevado no ambiente virtual, nesta nova era do “eu” em detrimento da coletividade. As pessoas pensam que têm amigos e uma vida glamorosa, todavia nunca estiveram tão sós quanto agora, todavia há aqueles que vivem um pouco escondidos, um pouco enganados, tendo como ideal esses falsos valores.

Importante lembrar que a experiência do mundo concreto possibilita e restringe a compreensão de inúmeros domínios cognitivos. Para Maturana e Varela é o acoplamento sensório-motor que atua nas estruturas corporificadas e que nos permite agir em um micromundo já apresentado e não em gestão. (ARAÚJO, 2009)

Assim, a ressignificação de valores éticos dentro do ambiente virtual é algo a ser perquirido incessantemente, pois neste mundo virtual, a sociedade é de desejo, mas também é de renúncia. Quando a sociedade faz uso da internet renuncia sua identidade, pois mesmo de forma livre renuncia sua liberdade.

Isso tudo leva a reflexão sobre uma enorme impossibilidade de ver o outro em si mesmo, de poder compreender o mundo sistêmico em que vivemos, de analisar a realidade pós-moderna a partir de nossas próprias vivências.

Para Bauman existe uma grande dificuldade até mesmo uma impossibilidade de amar o próximo, o outro. Segundo o autor “nesse mundo fragmentado, estilhaçado, o outro não existe ou só existe como ameaça, como perigo, como risco.” (SÁ; RETZ, p. 91, 2015)

Assim neste mundo líquido e ambivalente as pessoas precisam ter coragem para manterem-se livres, e dentro deste livre arbítrio pela liberdade devém buscam no bom senso e na preponderância a ressignificação dos valores, de sua identidade, de seu comportamento ético e moral perante a sociedade. Bauman, sob este ponto de vista destaca a experiência de amar outra pessoa, dizendo que por essência o ser humano é individualista, mas para que o amor fortaleça novamente os laços entre as pessoas, deve-se reconfigurar “hábitos, costumes, opções de consumo, capacidade de crédito” abrindo mão do “ter” pelo “ser”. (SÁ; RETZ, p. 90, 2015).

 

RESULTADOS OBTIDOS OU ESPERADOS:

 

O resgate da sociedade ideal passa pela esperança, paciência e honestidade. Escolhas certas ou erradas podem resultar da mesma condição de incerteza, indeterminação, indefinição sobre o futuro da sociedade, mas a perseverança na busca pela escolha certa é o que nos diferencia das máquinas, é o que nós faz enxergar no próximo a felicidade.

Portanto, no livre arbítrio fazemos escolhas e nas escolhas podemos encontrar a felicidade, assim as reflexões são necessárias, pois associadas as responsabilidades, inclusive pela vida em coletividade, são as análises que devem ser feitas e que permeiam a arte da vida.

Respondendo ao objetivo da pesquisa, onde se buscou verificar em que medida as pessoas estão preparadas eticamente para viver na sociedade digital, importante dizer que neste mundo líquido e ambivalente as pessoas precisam ter coragem para manterem-se livres, e dentro deste livre arbítrio pela liberdade devém buscar no bom senso e na preponderância a ressignificação dos valores, de suas identidades, de seus comportamentos ético e moral perante a sociedade.

 

TÓPICOS CONCLUSIVOS

 

Na vida das pessoas as realidades devem estar presentes, onde todos tenham tempo para contemplação, tempo para os acontecimentos da vida com participação ativa na comunidade.

As escolhas que temos que fazer, são escolhas éticas, subjacentes as escolhas que nós mesmos temos que fazer. Para que o homem realize ele precisa utilizar dos meios técnicos, pois busca emancipação, quer usufruir, mas para isso tem que haver o trabalho, ou seja, o contributo necessário para que a sociedade exista.

A realidade pós-moderna apresenta uma nova era, alicerçada na substituição da sociedade de espetáculo de sentido consumerista para uma sociedade imaterial livremente ligada e conectada.

O que se percebe é que atualmente a cultura digital está associada com a ideia de interconexão, inter-relação e interatividade entre as pessoas, sendo aduzida interconexão diversificada e progressista, sobretudo em se tratando de tecnologias digitais, tendo na interação a palavra de ordem.

Este admirável mundo novo embora almeje a autorregulação do público com o privado em razão de suas características de ubiquidade, ainda necessita da mão do Estado, pois dentro do ciclo de saberes e vivências, a sociedade não possui o conhecimento de forma nivelada, pelo que há ainda, ao menos neste lapso temporal a necessidade de regulação Estatal.

Nestes mundo digital faltam laços, falta afetividade, companheirismo, senso de coletividade e comportamento ético, sendo cada vez mais difícil as pessoas se colocarem no lugar das outras, o que efetivamente seria o mais importante na harmonia das relações interpessoais.

A família pós-moderna tem esse desafio de assimilação das tecnologias, pois tem que lidar com as dificuldades, inseguranças, inserção na vida diária, o que por via direta de consequência, culmina com a relativização do comportamento ético, da moral e dos bons costumes.

Assim, a ressignificação de valores éticos dentro do ambiente virtual é algo a ser perquirido incessantemente, pois neste mundo virtual, a sociedade é de desejo, mas também é de renúncia. Quando a sociedade faz uso da internet renuncia sua identidade, pois mesmo de forma livre renuncia sua liberdade.


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Referencias


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ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vililância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Tradução: George Schlesinger. 1 ed. Rio de Janeir: Intrinseca, 2020.




DOI: http://dx.doi.org/10.21902/RevPercurso.2316-7521.v3i41.5553

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PERCURSO, e-ISSN: 2316-7521

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