O CENÁRIO ATUAL DA POLÍTICA PÚBLICA PELA PROMOÇÃO DA DIGNIDADE MENSTRUAL NA EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DO DIREITO DA PERSONALIDADE À EDUCAÇÃO, EM REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
Résumé
Objetivo: O objetivo deste artigo é apresentar as construções teóricas que sustentam a dignidade menstrual como um possível direito da personalidade, assim como a sua interseção com o direito à educação e as políticas públicas, enquanto instrumentos privilegiados na efetivação de direitos.
Método: Foi utilizada a metodologia de abordagem dedutiva, partindo-se de uma teoria geral dos direitos da personalidade para, hipoteticamente, afirmar a dignidade menstrual como um direito assim qualificado. Procedimentalmente foi adotado o método histórico e comparativo, contextualizando a dignidade menstrual no cenário estadual das políticas públicas educacionais. Como técnicas de pesquisa foram utilizadas as estratégias documental e bibliográfica.
Resultados: Foi possível observar que, historicamente, as condições de acesso e permanência na escola foram, e ainda são desiguais para homens e mulheres, na medida em que a menstruação, fenômeno de ordem biológica que alcança majoritariamente o público feminino, não é tomada como uma variável na formulação, proposição, execução e avaliação de políticas públicas educacionais.
Conclusões: O estudo concluiu que: a) é possível a afirmação da dignidade menstrual como um direito da personalidade; b) na medida em que a educação não está preparada para acolher, lidar e tratar a condição de dignidade menstrual, são violados direitos sensíveis da personalidade que garantem condições de acesso e permanência na escola a todas as pessoas (menstruantes e não menstruantes); c) o enfrentamento da indignidade menstrual na escola requer uma política pública austera, interdisciplinar e efetiva, sob pena de violação da equidade de gênero enunciada constitucionalmente.
Palavras-chave: Equidade de gênero; Dignidade menstrual; Política pública; Direitos da personalidade; Direito à educação.
ABSTRACT
Objective: The objective of this article is to present the theoretical constructions that support menstrual dignity as a possible personality right, as well as its intersection with the right to education and public policies, as privileged instruments in the realization of rights. Method: The deductive approach methodology was used, starting from a general Method: A deductive approach methodology was used, starting from a general theory of personality rights to, hypothetically, affirm menstrual dignity as a right thus qualified. Procedurally, the historical and comparative method was adopted, contextualizing menstrual dignity in the state scenario of public educational policies. Documentary and bibliographic strategies were used as research techniques. Results: It was possible to observe that, historically, the conditions of access and permanence at school were, and still are, unequal for men and women, to the extent that menstruation, a biological phenomenon that affects mostly females, is not taken as a variable in the formulation, proposal, execution and evaluation of public educational policies. Conclusions: The study concluded that: a) it is possible to affirm menstrual dignity as a personality right; b) to the extent that education is not prepared to welcome, deal with and treat the condition of menstrual dignity, sensitive personality rights are violated that guarantee conditions of access and permanence in school for all people (menstruating and non-menstruating); c) tackling menstrual indignity at school requires an austere, interdisciplinary and effective public policy, under penalty of violating constitutionally stated gender equity.Keywords: Gender equity; Menstrual dignity; Public policy; Personality rights; Right to education.
Mots-clés
Texte intégral :
PDF (Português (Brasil))Références
A ORIGEM nada legal da expressão ‘estar de chico’ para menstruar. Hypeness, 2020. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2020/06/a-origem-nada-legal-da-expressao-estar-de-chico-para-menstruar/. Acesso em: 16 abr. 2021.
ABSORVENTE interno Intimus Super – 16 unidades. Amazon, 2024. Dimensões disponíveis em: https://www.amazon.com.br/Absorvente-Interno-Super-Unidades-Intimus/dp/B07DKKVGDN. Acesso em: 8 mar. 2024.
AITH, Fernando. Políticas públicas de Estado e de governo: instrumento de consolidação do Estado Democrático de Direito e de promoção e de proteção dos direitos humanos. Políticas Públicas – reflexões sobre o conceito jurídico, Maria Paula Dallari Bucci (organizadora). São Paulo: Saraiva, 2006, p. 232.
ALVES, Hirschle Ferreira; RIBEIRO, Gabriela Oliveira; VITORINO, Gisele da Silva; ANDRADE, Adriana Antonino de; UCHÔA, Erica Patrícia Borba Lira; CARVALHO, Valéria Conceição Passos de. Prevalência da tensão pré-menstrual entre universitárias. Fisioterapia Brasil, v. 20, n. 3, p. 392-399, 2019. Disponível em: https://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/fisioterapiabrasil/article/view/2215/pdf_1. Acesso em: 9 mar. 2024.
ANDRADE, Fábio Siebeneichler de. A tutela dos direitos da personalidade no direito brasileiro em perspectiva atual. Revista de Derecho Privado, nº 27, p. 81-111, 2013. Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/rdp/n24/n24a04.pdf. Acesso em: 8 mar. 2024.
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da constituição brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1993.
BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulus, 2013.
BRAGA, Nathália. Falta de dinheiro impede acesso a absorventes – e o governo ignora o problema. Estudantes perdem até 5 dias de aula por mês por estarem menstruadas, mas não são só elas que sofrem com isso. The Intercept, 3 fev. 2020. Disponível em: https://theintercept.com/2020/02/03/falta-dinheiro-menstruacao-acesso-absorventes/. Acesso em: 5 jun. 2021.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo escolar: sinopse. Brasília, DF: IBGE, 2021. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/13/5908. Acesso em: 10 maio 2024.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidade. Panorama. Brasília, DF: IBGE, 2024. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/panorama. Acesso em: 16 maio 2024.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estatísticas de gênero. Indicadores sociais das mulheres no Brasil. Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica n. 38. Informações atualizadas em 08 de junho de 2018. Rio de Janeiro, RJ: IBGE, 2018. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf. Acesso em: 6 jan. 2024
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estatísticas de Gênero. Indicadores sociais das mulheres no Brasil. Informação Demográfica e Socioeconômica nº 38. 2024. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102066_informativo.pdf. Acesso em: 16 abr. 2024.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde – PNS. 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9160-pesquisa-nacional-de-saude.html?=&t=sobre. Acesso em: 6 jun. 2021.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. 2022. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/nosso-povo/19625-numero-de-homens-e-mulheres.html#:~:text=Em%202022%2C%2048%2C9%25,os%20homens%20s%C3%A3o%20a%20maioria. Acesso em: 9 fev. 2024.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Brasília, DF: IBGE, 2019. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/pesquisa/10056/91315. Acesso em: 15 fev. 2024.
BUCCI, Maria Paula Dallari; SOUZA, Matheus Silveira de. A abordagem Direito e políticas públicas: temas para uma agenda de pesquisa. São Paulo: Saraiva, 2021.
CONTE, Juliana. Posso escolher parar de menstruar? Drauzio Varella, 6 mar. 2018. Disponível em: https https://drauziovarella.uol.com.br/sexualidade/contracepcao/posso-escolher-parar-de-menstruar/. Acesso em: 6 mar. 2024.
COUTINHO, Diogo R. Direito, desigualdade e desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2013.
COUTINHO, Diogo Rosenthal. O direito nas políticas públicas sociais brasileiras: um estudo sobre o Programa Bolsa Família. In: SCHAPITO, Mário G.; TRUBEK, David M. (orgs.). Direito e desenvolvimento: um diálogo entre os Brics. São Paulo: Saraiva, 2012.
COUTINHO, Diogo Rosenthal. O direito nas políticas públicas: a política pública como campo multidisciplinar. São Paulo: UNESP, 2013. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/002732913. Acesso em: 4 jun. 2024.
CUPIS, Adriano de. Os direitos da personalidade. São Paulo: Quorum, 2008.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Os direitos da mulher e da cidadã por Olímpia de Gouges. São Paulo: Saraiva, 2016.
FERREIRA, Aurélio Buarque. Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. São Paulo: Positivo. 2004.
GRAZIANO, Luigi. O lobby e o interesse público. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 12, n. 35, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/S8wsbjvBLrVjYrQvTK5y6sM/?format=pdf〈=pt. Acesso em: 16 fev. 2024.
HOWLETT, Michael. Política pública e seus ciclos e subsistema: uma abordagem integradora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
HOWLETT, Michael; RAMESH, M.; PERL, Anthony. Política pública: seus ciclos e subsistemas: uma abordagem integral. São Paulo: Campus, 2013.
IGNOTOFSKY, Rachel. As cientistas: 50 mulheres que mudaram o mundo. Tradução: Sonia Augusto. São Paulo: Blucher, 2017.
LERNER, Reilly H. Recognizing Menstrual equity as a dimension of equal educational opportunity. Journal of Law & Education, v. 1, p. 226-263, 2023. Disponível em: https://sc.edu/study/colleges_schools/law/student_life/journals/jled/editions/_documents/2023_52_1/lerner_final.pdf. Acesso em: 18 set. 2023.
LEWANDOWSKI, Ricardo. Proibição do retrocesso. Folha de São Paulo, 1 fev. 2018. Disponível em: https://www.stf.jus.br/arquivo/biblioteca/PastasMinistros/RicardoLewandowski/ArtigosJornais/1117223.pdf. Acesso em: 4 ago. 2023.
MADALENA, Samantha Ribas Teixeira. O feminismo no Século XXI: crise, perspectivas e desafios jurídico-sociais para as mulheres brasileiras. In: GOSTINSKI, Aline; MARTINS, Fernanda (orgs.). Estudos feministas por um direito menos machista. Florianópolis: Empório do Direito, 2016.
MAGAN, Eugênio Daniel Alencar; ALMEIDA, Milena Nascimento; FIGUEREDO, Sarahellen; OLIVEIRA, Adailson Henrique Miranda de. Os impactos da pobreza menstrual na saúde das pessoas que menstruam. Revista Brasileira de Educação, Saúde e Bem-Estar, v. 1, n. 2, p. 252-265, 2023. Disponível em: https://rebesbe.emnuvens.com.br/revista/article/view/27. Acesso em: 6 ago. 2024.
MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967: com a Emenda n. I de 1969. Tomo VI (arts. 160-200). 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1972.
MOTTA, Ivan Dias; PINTO, Washington Aparecido. Direito a saúde como direito da personalidade: um olhar sobre o contexto da pandemia. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas (UNIFAFIBE), v. 11, n. 3, p. 1-23, 2023. Disponível em: https://portal.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/1095. Acesso em: 10 jan. 2023.
NAZAR, Susanna. Brasil tem 10 milhões de analfabetos, apesar da queda na taxa em 2022. Jornal da USP, 3 jul. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-tem-10-milhoes-de-analfabetos-apesar-da-queda-na-taxa-em-2022/. Acesso em: 15 fev. 2024.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Pobreza menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos. 2021. https://www.unicef.org/brazil/media/14456/file/dignidade-menstrual_relatorio-unicef-unfpa_maio2021.pdf. Acesso em: 4 jun. 2021.
PISCITELLI, Tathiane; CASTILHOS, Núbia Nette Alves Oliveira de; CAMARA, Andalessia Lana Borges; CASTRO, Simone (coords.). Reforma Tributária e desigualdade de gênero. São Paulo: FGV, 2020. Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/reforma_e_genero_-_final_1.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.
QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam: a brutal vida das mulheres tratadas como homens nas prisões brasileiras. Rio de Janeiro: Record, 2017.
RAGO, Margareth. Foucault e as mulheres. In: COLLING, Ana Maria; TEDESCHI, Losandro Antonio (orgs.). Dicionário crítico de gênero. Dourados: UFGD, 2019.
REZZUTTI, Paulo. Mulheres do Brasil: a história não contada. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.
SARDENBERG, Cecília Maria Bacellar. De sangrais, tabus e poderes: a menstruação numa perspectiva sócio- antropológica. Revista Estudos Feministas, v. 2, n. 2, p. 314-344, 1994. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16215/19709. Acesso em: 5 jan. 2023.
SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana. Conteúdo, trajetórias e metodologia. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. Forum, 2016.
SHINOHARA, Márcia Yuri; BEZERRA, Lucila Coca; TAKAGI, Ângela Megumi. Conceitos de mulheres sobre a menstruação. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasllia, v. 47, n. 2, p. 195-205, abr./jun. 1994 Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/dcGz8fZpyFL6ZcBj4Ghfzsy/?lang=pt. Acesso em: 5 mar. 2024.
SOUSA, Fernanda Ferreira de; SOUSA JÚNIOR, José Francisco Miranda de; VENTURA, Patrícia Lima. Efeito da auriculoterapia na dor e função sexual de mulheres com dismenorreia primária. Brazilian Journal of Pain, v. 3, n. 2, p. 127-130, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/brjp/v3n2/pt_1806-0013-brjp-20200033.pdf. Acesso em: 5 mar. 2024.
SOUZA, Duda Porto de; CARARO, Aryane. Extraordinárias mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte e Schwarcz, 2018.
STEINEM, Gloria. If Men Could Menstruate. Article 22. In. Women's Reproductive Health. Taylor & Francis Group. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/epdf/10.1080/23293691.2019.1619050?needAccess=true. Acesso em 03 jun. 2023.
VARELLA, Drauzio. Menarca e menopausa. Drauzio Varella, 11 ago. 2020. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/mulher/menarca-e-menopausa-artigo/. Acesso em: 4 mar. 2024.
ZAK, Mayra; GOZURRETA, Amalia Arias. Cuanto cuesta menstruar? Economia Feminista, 25 fev. 2017. Disponível em: https://ecofeminita.com/cuanto-cuesta-menstruar/?v=19d3326f3137. Acesso em: 5 ago. 2024.
DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v1i81.7365
Renvois
- Il n'y a présentement aucun renvoi.
Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X
Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181
