MULHERES CARCEREIRAS: EFEITOS DO TRABALHO EM UNIDADES PRISIONAIS

LISANDRA CHAVES DE AQUINO MORAIS, BÁRBARA MARIANE DA SILVA, RAFAEL DE ALBUQUERQUE FIGUEIRÓ, MARTHA EMANUELA SOARES DA SILVA FIGUEIRÓ, RAISSA BEZERRA GUEDES, SARA NÓBREGA LEITE E SILVA

Resumo


RESUMO

O sistema penitenciário brasileiro enfrenta diversos desafios como a superlotação, a precariedade das estruturas físicas, a insalubridade e a dificuldade de ressocialização dos apenados, além da violência e da violação de direitos. Esse contexto se revela um ambiente propício para adoecimentos físicos e psíquicos. É nesse cenário que as policiais penais (PP) exercem a função de custódia, sendo responsável pela manutenção da ordem e integridade das internas nas unidades prisionais femininas. As policiais penais enfrentam um processo de subjetivação singular, resultante da experiência no cárcere, lidando com estresse, sobrecarga de trabalho, dentre outros problemas. Assim, essa pesquisa teve por objetivo compreender os impactos do trabalho prisional nos processos de subjetivação de policiais penais em uma unidade prisional feminina, localizada em Natal-RN. A metodologia adotada consistiu na aplicação de entrevistas semiestruturadas com doze policiais penais, abordando aspectos de sua rotina, afetações, produção de subjetividade, vida familiar e relações interpessoais antes e depois da inserção no sistema prisional. Os resultados indicam processos de subjetivação que transcendem o ambiente laboral, sugerindo um modo específico de ser e agir, caracterizado por um estado permanente de vigilância, sensação de insegurança, estresse, agressividade, naturalização e banalização da violência.

Palavras-chave: Sistema Prisional; Policial penal; Subjetividade.

ABSTRACT

The Brazilian prison system faces several challenges, such as overcrowding, precarious physical structures, unhealthy conditions, and difficulties in reintegrating prisoners into society, in addition to violence and violations of rights. This context is a favorable environment for physical and mental illness. It is in this scenario that female prison police officers (PP) perform the role of custodians, being responsible for maintaining order and integrity of inmates in female prison units. Female prison police officers face a unique process of subjectivation resulting from their experience in prison, dealing with stress, work overload, among other problems. Thus, this research aimed to understand the impacts of prison work on the subjectivation processes of female prison police officers in a female prison unit located in Natal, Rio Grande do Norte. The methodology adopted consisted of applying semi-structured interviews with twelve female prison police officers, addressing aspects of their routine, affects, production of subjectivity, family life, and interpersonal relationships before and after insertion into the prison system. The results indicate processes of subjectivation that transcend the work environment, suggesting a specific way of being and acting, characterized by a permanent state of vigilance, a feeling of insecurity, stress, aggressiveness, and the naturalization and trivialization of violence

Keywords: Penitentiary System; Prison Officer; Subjectivity.


Palavras-chave


Sistema Prisional; Policial penal; Subjetividade.

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DOI: http://dx.doi.org/10.21902/RevPercurso.2316-7521.v3i48.7256

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