A GUERRA E A VIOLÊNCIA NA POLÍTICA EM CLAUSEWITZ

Paulo Emílio Vauthier Borges de MACEDO

Resumo


RESUMO

Objetivos: Este trabalho pretende demonstrar que a guerra faz parte da sociedade internacional, da sua natureza mesmo, ou, nas palavras de Carl von Clausewitz, a guerra é a “continuação da política por outros meios”. Se essa afirmação for aceita, não se pode conceber a guerra como algo alheio e, até mesmo, avesso à Política e ao Direito. Antes, ela integra o quotidiano das relações entre os Estados: uma medida que políticos e chefes de Estado utilizam com tanta naturalidade como outra qualquer; não raro, nem mesmo constitui a última ratio. Aqui, intenta provar-se duas teses: a da “naturalização” da guerra e a da sua instrumentalização.

Metodologia: Empregou-se uma metodologia indutiva. O autor foi estudado a partir de três fontes primárias: A campanha de 1812 na Rússia, Princípios da Guerra e a magna opus inacabada o Da Guerra. A referência a alguns comentadores, sobretudo Raymond Aron, foi também necessária.

Resultados: Os conflitos armados não são uma “doença” que acometem os Estados, nem o resultado de uma mente insana, mas um dos instrumentos postos à disposição dos homens de governo, uma das formas pela qual se manifesta a Política. Sem dúvida que não se trata de uma forma qualquer, mas daquela que se vale de um meio bastante singular: a violência. Ainda assim, esta medida, por mais cruel que possa parecer, não significa a falência da Política e do Direito.

Contribuições: Clausewitz apresenta dois conceitos de guerra, o absoluto e o real, os quais demonstram o funcionamento da lógica e da tensão presente na essência da sociedade internacional. Mas ele era um homem do contexto do equilíbrio europeu, portanto, não poderia advogar a tese da “guerra total”, como releituras posteriores — sobretudo a de Ludendorff — fizeram crer. O conceito de guerra absoluta de Clausewitz é distinto daquele de guerra total; este foi uma derivação imprópria. Por fim, o artigo estabelece uma genealogia do pensamento do autor até O Príncipe de Maquiavel. Esse percurso tem por objetivos demonstrar a relação estreita entre guerra e Política; no caso, entre a formulação clausewitziana de guerra e a teoria política de Maquiavel.

Palavras-chave: Clausewitz; violência estrutural; guerra absoluta; guerra real; Maquiavel.

 

ABSTRACT

Objective: This paper aims to demonstrate that war is part of the international society, its very own nature, or, according to Carl von Clausewitz, “war is the continuation of politics by other means”. Should this claim be accurate, one cannot place war outside or even averse to Politics and Law. It is rather a part of the everyday life of the international relations: a measure that politicians and heads of State employ so natural as any other; not seldom, it is not even the last resource. This work attempts to evidence two theses: the "naturalization" of war and its instrumentation.

Methodology: An inductive method of approach was employed. The author was studied from three primary sources: The Russian Campaign of 1812, The Principles of War and the unfinished magna opus On War. Reference to a few commentators, especially Raymond Aron, was also necessary.

Results: Armed conflicts are not a "disease" that affect the States, not the result of an insane mind, rather one of the instruments placed at the disposal of governmental officials, an expression of Politics. Indubitably, it is no ordinary expression, but that which deploys a quite unique means: violence. Yet, as cruel as it may seem, this measure does not entail the end of Politics and Law.

Contributions: Clausewitz introduces two concepts of war, the absolute and the real, which demonstrate the inner logic and tension within international society. But he is a man of the European balance of power and, hence, could not support the thesis of "total war", as subsequent readings — especially that of Ludendorff — contended. Clausewitz’ concept of absolute war is different from that of total war; the latter was an improper derivation. Finally, this article also presents the close connections between Clausewitz and the Prince of Machiavelli. This course aims to display the close connection between war and Politics; in this case, between the Clausewitzian notion of war and Machiavelli's political theory.

Keywords: Clausewitz; structural violence; absolute war; real war; Machiavelli.


Palavras-chave


Clausewitz; violência estrutural; guerra absoluta; guerra real; Maquiavel.

Texto completo:

PDF

Referências


ARON, Raymond. Clausewitz. Philosopher of War. Tradução de Christine Booker e Norman Stone. London: Prentice-Hall, 1985.

ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as Nações. 2. ed. Tradução Sérgio Barthes. Brasília: EdUNB, 1986a. (Coleção Pensamento Político, 7).

ARON, Raymond. Pensar a Guerra, Clausewitz. Tradução de Elisabeth Maria Speller Trajano. Brasília: EdUNB, 1986b. 2 v. (Coleção Pensamento Político, 71 e 72).

CARR, Edward Hallet. Vinte anos de crise: 1919-1939. Tradução de Luiz Alberto Figueiredo Machado. Brasília: EdUNB, 1981. (Coleção Pensamento Político, 24).

CHALIAND, Gérard. Prefácio. In: CLAUSEWITZ, Carl von. A Campanha de 1812 na Rússia. Trad. Lúcia Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CLAUSEWITZ, Carl von. A Campanha de 1812 na Rússia. Tradução de Lúcia Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. Tradução de Maria Teresa Ramos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes e Brasília: EdUNB, 1996.

CLAUSEWITZ, Carl von. Principles of War. Translated by Hans W. Gatske. California: The Military Service Publishing Company, 1942.

GALLIE, W.B. Os filósofos da paz e da guerra: Kant, Clausewitz, Marx, Engels e Tolstoi. Tradução de Silvia Rangel. Brasília: EdUNB; Rio de Janeiro: Artenova, 1979.

HOBSBAWN, Eric J. A Era dos Impérios 1875-1914. Tradução de Sieni Maria Campos e Yolanda Steidel de Toledo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

JOLL, James. Europe since 1870. 4. ed. London: Penguin, 1990.

KENNEDY, Paul. Grand Strategy in War and Peace: toward a broader definition. In: KENNEDY, Paul (ed.). Grand Strategies in War and Peace. New Haven and London: Yale University Press, 1991.

LEONARD, Roger Ashley (seleção e introdução). Clausewitz: trechos de sua obra. Tradução de Delcy G. Doubrawa. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988.

MAQUIAVEL, Nicolau. Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: EdUNB, 1979. (Coleção Pensamento Político, 3).

MAQUIAVEL, Nicolau. A Arte da Guerra. In: A Arte da Guerra e Outros Ensaios. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: EdUNB, 1987a. (Coleção Pensamento Político, 22).

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. In: A Arte da Guerra e Outros Ensaios. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: EdUNB, 1987b. (Coleção Pensamento Político, 22).

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe (com notas de Napoleão Bonaparte). Tradução de J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.

NYE JR., Joseph. Understanding International Conflicts: an introduction to theory and history. 2. ed. New York: Harvard University, 1997.

OBER, Josiah. Classical Greek Times. In: HOWARD, Michael; ANDREOPOULOS, George; SHULMAN, Mark (ed.). The Laws of War: constraints on warfare in the Western world. New Haven and London: Yale University Press, 1994.

PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Globo, 1976.

RAPOPORT, Anatol. Lutas, Jogos e Debates. Tradução de Sérgio Duarte. Brasília: EdUNB, 1980. (Coleção Pensamento Político, 21).

RAPOPORT, Anatol. Prefácio. In: CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. Tradução de Maria Teresa Ramos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes e Brasília: EdUNB, 1996.

ROTHENBERG, Gunther. The age of Napoleon. In: HOWARD, Michael; ANDREOPOULOS, George; SHULMAN, Mark (ed.). The Laws of War: constraints on warfare in the Western world. New Haven and London: Yale University Press, 1994.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v1i63.5177

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.