A MEMÓRIA COLETIVA COMO DEVER SOCIAL DAS POLÍTICAS DE RESPEITO ÀS DIVERSIDADES EM ÂMBITO PRISIONAL

Bruno Rotta ALMEIDA

Resumo


Objetivo: O artigo estuda o papel da memória como dever social das políticas de respeito à diversidade no sistema prisional brasileiro. Em um primeiro momento, o artigo expõe alguns aspectos sobre a memória como dever social. A seguir, demonstra os caracteres que envolvem a violência institucional e o desrespeito a direitos fundamentais nas prisões, indicando o espaço de violações que afetam as pessoas privadas de liberdade e integrantes dos grupos sociais vulneráveis. Após, exibe uma precisa trajetória histórico-social das violências ocultadas no âmbito do sistema penal brasileiro. Por fim, oferece aproximações entre as políticas de respeito à diversidade e a temática proposta.

Metodologia: O artigo utiliza abordagem dedutiva, revisão bibliográfica e análise de dados e informações. O objetivo metodológico é exploratório e propositivo.

Resultados: Por meio de uma perspectiva crítica da sociologia jurídico-penal e da criminologia, o texto procura indagar em que medida a memória, na sua dimensão coletiva, pode contribuir para a construção de políticas de respeito às diversidades em âmbito carcerário, e se a recente trajetória das políticas brasileiras sobre o tema se aproxima dessa ideia. As persistentes violações podem ser reavaliadas a partir da atuação da memória coletiva como um dever social das políticas. Ainda, a cultura de resistência deve ser apresentada por meio do respeito às diversidades e a compreensão das realidades e complexidade acerca da questão criminal e penitenciária.

Contribuições: A pesquisa possui relevância diante da necessária análise das sobrecargas prisionais e das constantes violações dos direitos fundamentais das pessoas integrantes dos grupos sociais vulneráveis/vulnerabilizados. Além disso, fornece importantes questões que se aproximam à psicologia social, pois objetiva a análise da memória e as percepções e racionalidades atinentes ao respeito à diversidade.

Palavras-chave: Memória; Prisão; Dever Social; Diversidade; Políticas; Brasil.

 

ABSTRACT

Objective: This paper studies the role of memory as a social responsibility of policies regarding respect for diversity in the Brazilian prison system. At first, the article exposes some aspects about memory as a social responsibility. It then shows the characteristics of institutional violence and disrespect for fundamental rights in prisons, indicating the scope of violations that affect persons deprived of their liberty and members of vulnerable social groups. Afterwards, it shows an accurate historical-social trajectory of the violence hidden within the scope of the Brazilian penal system. Finally, it offers approximations between the policies of respect for diversity and the proposed theme.

Methodology: The article uses a deductive approach, bibliographic review and analysis of data and information. The methodological objective is exploratory and propositional.

Results: Through a critical perspective of criminal-legal sociology and criminology, the text seeks to explore the extent to which memory, in its collective dimension, can contribute to the construction of policies regarding respect for diversity in prison, and whether the recent trajectory of Brazilian policies on the subject approaches this idea. Persistent violations can be reevaluated based on the performance of collective memory as a social responsibility of policies. Still, the culture of resistance must be presented by respecting diversity and understanding the realities and complexity of the criminal and penitentiary issue.

Contributions: The research has relevance to the necessary analysis of prison overloads and constant violations of the fundamental rights of members of vulnerable social groups. In addition, the text provides some questions about social psychology, because it aims to analyze the memory and the perceptions and rationalities related to respect for diversity.

Keywords: Memory; Prison; Social Responsibility; Diversity; Policies; Brazil.


Palavras-chave


Memória; Prisão; Dever Social; Diversidade; Políticas; Brasil

Texto completo:

PDF

Referências


ALAGIA, Alejandro. Hacer sufrir. Buenos Aires: Ediar, 2013.

ALMEIDA, Bruno Rotta; MASSAÚ, Guilherme Camargo. A normalidade do desumano: a banalidade do mal no sistema penitenciário brasileiro. Derecho y Cambio Social, n. 41, ano XII, 2015.

ALMEIDA, Bruno Rotta; MASSAÚ, Guilherme Camargo. A arte de governar o mal e a gramática do desumano no sistema penitenciário brasileiro. Revista Crítica Penal y Poder, n. 13, 2017.

ANITUA, Gabriel Ignacio; QUIRÓS, Diego Zysman. Presentación. In: ANITUA, Gabriel Ignacio; QUIRÓS, Diego Zysman. La tortura: una práctica estructural del sistema penal, el delito más grave. Buenos Aires: Didot, 2013.

AZERRAD, Marcos Edgardo. Crisis carcelaria, violencia institucional y clasificación de los reclusos. Violación de garantías y convenciones internacionales. Córdoba: Lerner, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

BAUMAN, Zygmunt Modernidade e holocausto. Trad. Marcus Penchel. Rio e Janeiro: Zahar, 1998.

BENJAMIN, Walter. O anjo da história. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

BERGALLI, Roberto. Filosofía del mal y memoria colectiva: conceptos, aplicaciones, e identidade social. Europa, Latinoamérica. El caso español. In: CUÉLLAR, Alejandro Forero; RIVERA BEIRAS, Iñaki; GORSKI, Hector C. Silveira. (ed.). Filosofía del mal y memoria. Anthropos Editorial; Observatori del Sistema Penal i els Drets Humans; Universitat de Barcelona: Barcelona, 2012

BERGALLI, Roberto. Presentación. Memoria colectiva como deber social. In: BERGALLI, Roberto; RIVERA BEIRAS, Iñaki (Coords.). Memoria colectiva como deber social. Rubí; Anthropos Editorial; Observatori del Sistema Penal i els Drets Humans: Barcelona, 2010.

BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. 4ª Ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária de 2015. Disponível em: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/cnpcp-1/imagens-cnpcp/plano-nacional-de-politica-criminal-e-penitenciaria-2015.pdf/ Acesso em: 25 abr. 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de informações Penitenciárias Infopen - junho de 2016. Disponível em: http://www.justica.gov.br/. Acesso em: 25 abr. 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de informações Penitenciárias Infopen - dezembro de 2014. Disponível em: http://www.justica.gov.br/. Acesso em: 25 abr. 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Infopen - junho de 2014. Disponível em: http://www.justica.gov.br/. Acesso em: 25 abr. 2018.

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Postulados e Princípios para a Política Nacional de Diversidades no Sistema Penal, 2016. Disponível em: http://justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/politicas-2/diversidades/publicacao-e-pesquisas-1/Produto1_diversidades.pdf Acesso em: 25 abr. 2018.

CASOLA, Laura; MONASTEROLO, Natalia. Violencia institucional: la construcción objetivo-subjetiva de un nuevo concepto a través de las instancias de prevención, corrección y ejecución penitenciaria. Córdoba: Nuevo Enfoque, 2012.

CHIES, Luiz Antônio Bogo. A questão penitenciária. Tempo social, Revista de sociologia da USP, v. 25, n. 1, 2013.

CHIES, Luiz Antônio Bogo. Do campo ao campo: análise da questão penitenciária no Brasil contemporâneo. O público e o privado, n. 26, julho/dezembro, 2015.

CHIES, Luiz Antônio Bogo. Questão penitenciária: obstáculos epistemológicos e complexidade. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, v. 35, n. 126, jan./jun. 2014.

COSTA, Pietro. Il progetto giuridico. Ricerche sulla giurisprudenza del liberalismo classico. Vol I. Milano: Guffrè, 1974.

ELIAS, Norbert. Escritos & ensaios: Estado, processo, opinião pública. Trad. Sérgio Benevides; Antonio Carlos dos Santos; João Carlos Pijnappel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes, vol. I. Trad. Ruy Jungman. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

FERRAJOLI, Luigi. Filosofía del mal y garantismo. In: CUÉLLAR, Alejandro Forero; RIVERA BEIRAS, Iñaki; GORSKI, Hector C. Silveira. (ed.). Filosofía del mal y memoria. Anthropos Editorial; Observatori del Sistema Penal i els Drets Humans; Universitat de Barcelona: Barcelona, 2012.

FISCHER; Rosa Maria; ADORDO, Sergio. Políticas penitenciárias, um fracasso? Lua Nova. vol.3 no.4 São Paulo, Junho 1987.

GARGARELLA, Roberto. De la injusticia penal a la justicia social. Bogotá: Siglo del Hombre, 2008.

GARLAND, David. Castigo y sociedad moderna: un estudio de teoría social. Ciudad de México: Siglo XXI, 2006.

GAUER, Ruth Maria Chittó. Violência e medo na fundação do Estado-Nação. In: Civitas- Revista de Ciências Sociais, Ano 1, nº 2, dez 2001.

GINZBURG, Jaime. Escritas da Tortura. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (orgs.). O que resta da ditadura? – a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

GIORGI, Alessandro de. Five theses on mass incarceration. Social Justice, vol. 42, n. 2, 2015.

KEHL, Maria Rita. Tortura e sintoma social. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (orgs.). O que resta da ditadura? – a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

WACQUANT, Löic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia, F. Bastos, 2001.

NEUMAN, Elías. El estado penal y la prisión-muerte. Buenos Aires: Editorial Universidad, 2001.

NEUMAN, Elías. Victomología y control social. Las víctimas del sistema penal. Editorial Universidad: Buenos Aires, 1994.

PAVARINI, Massimo. Estrategias de lucha. Los derechos de los detenidos y el abolicionismo. Delito y Sociedad. Revista de Ciencias Sociales. Año 17, n. 26, 2008.

PEDROSO, Célia Regina. Os signos da opressão: história e violência nas prisões brasileiras. São Paulo: Arquivo do Estado, 2002.

PRATT, John. Castigo y civilización: una lectura crítica sobre las prisiones y los regímenes carcelarios. Trad. Gabriel Zadunaisky. Barcelona: Gedisa, 2006.

RIVERA BEIRAS, Iñaki. La cuestión carcelaria: historia, epistemología, derecho y política penitenciara. 2. ed. Buenos Aires: Del Puerto, 2009.

RIVERA BEIRAS, Iñaki. La devaluación de los derechos fundamentales de los reclusos. La construcción jurídica de un ciudadano de segunda categoría. Barcelona: Bosch, 1997.

RIVERA BEIRAS, Iñaki. La memoria. Categoría epistemológica para el abordaje de la historia y las ciencias penales. Revista Crítica Penal y Poder, nº 1, Observatorio del Sistema Penal y los Derechos Humanos, Universidad de Barcelona, 2011.

RIVERA BEIRAS, Iñaki. La memoria: categoria epistemológica para el abordaje de la historia. In: BERGALLI, Roberto; RIVERA BEIRAS, Iñaki (Coords.). Memoria colectiva como deber social. Rubí; Anthropos Editorial; Observatori del Sistema Penal i els Drets Humans: Barcelona, 2010.

RIVERA BEIRAS, Iñaki (coord.). Mitologías y discursos sobre el castigo. Historias del presente y posibles escenarios. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; Barcelona: OSPDH. Universitat de Barcelona, 2004.

RIVERA BEIRAS, Iñaki. Recorridos y posibles formas de la penalidad. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; Barcelona: OSPDH. Universitat de Barcelona, 2005.

RUIZ, Castor Bartolomé. (In)justiça, violência e memória: o que se oculta pelo esquecimento, tornará a repetir-se pela impunidade. In: SILVA FILHO, José Carlos Moreira da; TORELLY, Marcelo Dalmás; ABRÃO, Paulo (orgs.). Justiça de Transição nas Américas – olhares interdisciplinares, fundamentos e padrões de efetivação. Belo Horizonte: Forum, 2013.

SALVATORE, Ricardo D. Subalternos, derechos y justicia penal: ensayos de historia social y cultural argentina 1829-1940. Barcelona: Gedisa, 2010.

SANTOS, Hugo Leonardo Rodrigues. Futuro pretérito da prisão e a razão cínica do grande encarceramento: três momentos de emergência de discursos, expectativas e experiências acumuladas em torno do conceito de prisão. Revista Brasileira de Ciências Criminais, n. 131, Dossiê “Dogmática e História do Direito Penal”, 2017.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SILVA FILHO, José Carlos Moreira da. Dever de memória e a construção da história viva: a atuação da Comissão de Anistia do Brasil na concretização do Direito à Memória e à Verdade. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; ABRÃO, Paulo; MACDOWELL, Cecília; TORELLY, Marcelo D. (orgs.). Repressão e Memória Política no Contexto Ibero-Brasileiro – Estudos sobre Brasil, Guatemala, Moçambique, Peru e Portugal. Coimbra, Universidade de Coimbra; Brasília: Ministério da Justiça, 2010.

SOLAZZI, José Luís. A ordem do castigo no Brasil. São Paulo: Imaginário; Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

SOUZA, Jessé. A gramática social da desigualdade brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol 19, n. 54, fevereiro/2004.

SOUZA, Jessé. Ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

SOZZO, Maximo. Locura y crimen: nacimiento de la intersección entre los dispositivos penal y psiquiátrico. Buenos Aires: Didot, 2015.

STIPPEL, Jörg. Cárcel, derecho y política. Santiago: LOM, 2013.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A filosofia do sistema penitenciário. Cuadernos de la Cárcel, Buenos Aires, 1991.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v4i66.2764

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.