A contaminação (in)consciente do julgador pela investigação criminal

Cristine Osternack COSTA

Resumo


A CONTAMINAÇÃO (IN)CONSCIENTE DO JULGADOR PELA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL


RESUMO


Trata-se de um ensaio, cujo escopo é questionar a incoerência de se manter o juiz do julgamento afastado da investigação criminal e, depois, permitir que ele se aproxime das informações produzidas nesta fase. Com efeito, mantém-se o risco de contaminação, ainda que inconsciente, da convicção do órgão julgador pelos atos realizados na inquisitória fase da investigação criminal. O crivo do problema é a falta de originalidade do material probatório, pois muitas vezes a fase do julgamento não passa de uma fraudulenta repetição da fase da investigação. Para isso, analisaremos o instituto da prova, em especial, a valoração probatória, com a finalidade de saber quais atos são passíveis de avaliação em juízo para serem valorados como atos de prova, e quais deveriam ser isolados – excluído fisicamente dos autos – por se qualificarem como atos de investigação, já que estes não cumprem a estrutura dialética do processo acusatório.

 

Palavras-chave: valor probatório, investigação criminal, processo acusatório

 

 

THE CONTAMINATION (UN)CONSCIOUS OF THE CRIMINAL JUDGE


ABSTRACT

 

The purpose of this essay is to question the incoherence of keeping the trial judge away from the criminal investigation, but later bring him in to asses the evidence previously produced. Indeed, there remains a risk for evidence contamination, albeit unconscious, biasing the magistrate towards evidence produced in the inquisitorial stage of the criminal investigation. The riddle of the problem is the lack of original evidence presented at trial, making the trial phase nothing more than a repetition of the fraudulent investigation phase. Therefore, we shall analyze the law of evidence, and, in particular, the probative value in order to find out which evidence can be admitted in court as legitimate, and which should be isolated - physically removed from the docket - as they qualify as investigative actions, not meeting the dialectical structure of the accusatory criminal procedure.

 

Keywords: probative value, criminal investigation, accusatory procedure


Texto completo:

PDF

Referências


ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, Comentário do código de processo penal à luz da Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, 3 ed., atual., Lisboa: Universidade Católica, 2008.

BELEZA, Teresa Pizarro, Apontamentos de direito processual penal, vol. II, Lisboa: AAFDL, 1992-1993.

CASTANHEIRA NEVES, António, Sumários de processo criminal (1967-1968), Coimbra: s. ed. (datilografados por João Abrantes e policopiados), 1968.

CORDERO, Franco, Procedura Penale, 7 ed., Milano: Giuffrè, 2003.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda, O papel do novo juiz no processo penal, in Crítica à teoria geral do direito processual penal, coord. COUTINHO, Nelson de Miranda Coutinho, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, pp. 3-55.

__________, Introdução aos princípios gerais do processo penal brasileiro, in Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, ano 30, n. 30, 1998, pp. 163-198.

DELMAS-MARTY, Mireille, A caminho de um modelo europeu de processo penal, in Revista portuguesa de ciência criminal, ano 9, n. 2, Abr.-Jun., 1999, pp. 229-243.

DIAS, Jorge de Figueiredo, O problema penal português: problemas e prospectivas, in Que futuro para o processo penal? Simpósio em homenagem a Jorge de Figueiredo Dias, por ocasião dos 20 anos de código de processo penal português, coord. Mário Ferreira Monte, Coimbra: Coimbra Editora, 2009, pp. 805-819.

__________, Direito processual penal, Coimbra: Coimbra Editora, 1974 (reimpressão em 2004).

__________, Sobre os sujeitos processuais no novo código de processo penal, in Jornadas de Direito Processual Penal: o novo código de processo penal, Centro de Estudos Judiciários, Coimbra: Almedina, 1993, pp. 3-34.

FERNANDES, Fernando, O processo penal como instrumento de política criminal, Coimbra: Almedina, 2001.

FERRAJOLI, Luigi, Derecho y razón: teoría del garantismo penal, trad. Perfecto Andrés Ibáñez, Madrid: Editorial Trotta, 1995.

ILLUMINATI, Giulio, El sistema acusatorio en Italia, in Proceso penal y sistemas acusatorios, coord. Lorena Bachmaier Winter, Madrid: Marcial Pons, 2008, pp. 136-160.

LOPES JR., Aury Celso Lima, Direito processual penal e sua conformidade constitucional, vol. I, 3 ed., Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008.

__________, Introdução crítica ao processo penal: fundamentos da instrumentalidade constitucional, 4 ed., rev. atual. ampl., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MENDES, Paulo de Sousa, A prova penal e as regras da experiência, in Estudos em homenagem ao Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias, org. Manuel da Costa Andrade, Maria João Antunes, Susana Aires de Sousa, Coimbra: Coimbra Editora, 2009-2010, pp. 997-1011.

MESQUITA, Paulo Dá, Direção do inquérito penal e garantia judiciária, Coimbra: Coimbra Editora, 2003.

_________, Notas sobre inquérito penal, polícias e Estado de direito democrático (suscitadas por uma proposta de lei dita de organização da investigação criminal), in Revista do Ministério Público, ano 21, n. 82, Abr.-Jun., 2000, pp. 137-149.

MOURA, José Souto de, Inquérito e instrução, in Jornadas de direito processual penal: o novo código de processo penal, Centro de Estudos Judiciários, Coimbra: Almedina, 1997, pp. 83-145.

PERRODET, Antoinette, O sistema italiano, in Processos penais da Europa, org. Mireille Delmas-Marty, trad. Fauzi Hassan Choukr, colab. Ana Cláudia Ferigato Choukr, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

RODRIGUES, Anabela Miranda, As relações entre o Ministério Público e o juiz de instrução criminal ou a matriz de um processo penal europeu, in Que futuro para o processo penal? Simpósio em homenagem a Jorge de Figueiredo Dias, por ocasião dos 20 anos de código de processo penal português, coord. Mário Ferreira Monte, Coimbra: Coimbra Editora, 2009, pp. 709-724.

__________, O inquérito no novo código de processo penal, in Jornadas de direito processual penal: o novo código de processo penal, Centro de Estudos Judiciários, Coimbra: Almedina, 1997, pp. 61-79.

SILVA DIAS, Augusto/ COSTA RAMOS, Vânia, O direito à não auto-inculpação (nemo tenetur se ipsum accusare) no processo penal e contra-ordenacional português, Coimbra: Coimbra Editora, 2009.

SILVA, Germano Marques da, Curso de processo penal, vol. II, 4 ed., rev. atual., Lisboa: Verbo, 2008.

__________, Curso de processo penal, vol. III, Lisboa: Verbo, 1994.

VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Dos órgãos de polícia criminal: natureza, intervenção e cooperação, Coimbra: Almedina, 2004.

VIGLIETTA, Gianfranco, Indagini preliminari: attività della polizia giudiziaria e del pubblico ministero, in Contributi allo studio del nuovo codice di procedura penale, Milano: Giuffrè, 1989.

WINTER, Lorena Bachmaier, Acusatorio versus inquisitivo: reflexiones acerca del proceso penal, in Proceso penal y sistemas acusatorios, coord. Lorena Bachmaier Winter, Madrid: Marcial Pons, 2008, pp. 11-48.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v27i11.209

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.