RELAÇÕES DE PODER E DOMINAÇÃO NAS PLATAFORMAS: reflexão crítica sobre a trama da uberização

Ismael de Mendonça Azevedo, Hilderline Câmara de Oliveira

Resumo


As linhas deste artigo objetivam analisar as relações de poder existentes na mediação do trabalho por via das plataformas digitais. Este estudo caracteriza-se como um ensaio teórico com base em livros e artigos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais. A análise do material demonstra que as plataformas digitais se destacam como grandes empregadores no Brasil. Elas atuam sob a ideia de intermediação da força de trabalho como forma de apoiar o empreendedorismo. Todavia, as práticas de reprodução do trabalho revelam que as plataformas atuam num cenário de dominação sobre o trabalhador. Como prática, as plataformas estão programadas para captura dos dados dos trabalhadores durante o expediente de trabalho e, com base nestes dados, elas estão se tornando hegemônicas num ambiente onde a vulnerabilidade por via do desemprego, subemprego e desalento faz o trabalhador se submeter às condições específicas das plataformas. Conclui-se que as plataformas não incentivam o empreendedorismo, pois seu modus operandi não condiz com a prática empreendedora, já que são as plataformas que detêm poder sobre os meios de produção, ao tempo em que elas têm poder e dominação sobre os trabalhadores.


Palavras-chave


Dominação; Plataformas digitais; Poder; Uberização

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