INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E JULGAMENTO POR COMPUTADORES: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DE UM ACESSO A JUSTIÇA SUBSTANCIAL

Henrique Ribeiro CARDOSO, Flavia Moreira Guimarães PESSOA, Bricio Luis da Anunciação MELO

Resumo


Objetivo: este artigo tem como objetivo investigar a possibilidade de contaminação de dados e de enviesamento algorítmico em processos judiciais, bem como a possibilidade de delegação da decisão judicial para os computadores.

Metodologia: na fase de investigação, utilizou-se o método hipotético dedutivo, com lastro em pesquisa bibliográfica, com o fito de construir um quadro de referência teórica como fundamento para os impactos da aplicação dos sistemas inteligentes em processos judiciais.

Resultados em algumas situações, o incentivo ao uso da IA como ferramenta auxiliar merece um olhar mais apurado, diante dos vieses algorítmicos e da possibilidade de uso dessa tecnologia com fins discriminatórios. Ademais, rechaça-se a possibilidade de se conferir às máquinas a possibilidade de tomada de decisão judicial.

Contribuições: a reflexão sobre a questão do acesso à Justiça substancial. Destacou-se que a demanda crescente de ações judiciais, aliada à necessidade de oferecer respostas céleres e adequadas aos cidadãos tem levado o Poder Judiciário a concentrar esforços no desenvolvimento de plataformas capazes de automatizar ações repetitivas, que se utilizam de ferramentas de Inteligência Artificial como mecanismos auxiliares à tomada de decisões judicias.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; Julgamento por computadores; Acesso a Justiça; Algoritmo.

 

ABSTRACT 

Objectives: This paper aims to investigate the possibility of data contamination and algorithmic bias in legal proceedings, as well as the possibility of delegating judicial decisions to computers.Methodology: the hypothetical deductive method was used, based on bibliographic research, with the aim of building a theoretical reference framework as a basis for the impacts of the application of intelligent systems in judicial proceedings.Results: in some situations, encouraging the use of AI as an auxiliary tool deserves a closer look, given the algorithmic biases and the possibility of using this technology for discriminatory purposes. Furthermore, the possibility of granting the machines the possibility of judicial decision-making is rejected.Contributions: reflection on the issue of access to substantial justice. It was highlighted that the growing demand for lawsuits, combined with the need to offer quick and adequate responses to citizens, has led the Judiciary to focus efforts on the development of platforms capable of automating repetitive actions, which use Artificial Intelligence tools as mechanisms. aids to judicial decision-making.

Keywords: Artificial intelligence; Judgment by computers; Access to justice; Algorithm. 

  

Palavras-chave


Inteligência Artificial; Julgamento por computadores; Acesso a Justiça; Algoritmo.

Texto completo:

PDF

Referências


ANGWIN, Julia; LARSON, Jeff; MATTU, Surya; KIRCHNER, Lauren. Machine Bias. Disponível em: https://www.propublica.org/article/machine-bias-risk-assessments-in-criminal-sentencing Acesso em: 21 mai. 2021.

BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 240, p. 1-42, jan. 2015. ISSN 2238-5177. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/43618. Acesso em: 15 mai. 2021.

COMANDUCCI, Paolo. Formas de (neo)constitucionalismo: um análisis metateórico. Isonomía: Revista de Teoría y Filosofía del Derecho, Cidade do México, n. 16, abr. 2005. Disponível em: http://www.cervantesvirtual.com/nd/ark:/59851/bmc44605 Acesso em: 10 jun. 2021.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2018: ano-base 2017. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/08/44b7368ec6f888 Acesso em: 11 maio 2021.

DAVID, René. Os grandes sistemas jurídicos contemporâneos. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DONEDA, Danilo; MENDES, Laura; SOUZA, Carlos Affonso; ANDRADE, Norberto. Considerações iniciais sobre inteligência artificial, ética e autonomia pessoal. Revista Pensar, Fortaleza, v. 23, n. 4, p. 1-17, out./dez. 2018.

ENGELMANN, Wilson; FROHLICH, Afonso Vinício Kirschner. Inteligência Artificial aplicada à decisão judicial: o papel dos algoritmos no processo de tomada de decisão. Revista Jurídica FURB, Blumenau, v. 24, v. 54, p. 1-42, maio/ago 2020.

ECONOMIDES, Kim. Lendo as ondas do Movimento de acesso à justiça: epistemologia versus metodologia. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/39.pdf Acesso em 12 jun. 2021.

FARIA, José Eduardo. O sistema brasileiro de justiça: experiência recente e futuros desafios. Estudos Avançados. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000200006 Acesso em 12 jun. 2021.

FERRARI, Isabel; BECKER, Daniel; WOLKART, Erik Navarro. Arbitrium Ex Machina: panorama, riscos e a necessidade de regulação das decisões informadas por algoritmos. In: Revista dos Tribunais, v. 995, set. 2018.

FREITAS, Juarez; FREITAS, Thomas Bellini. Direito e Inteligência Artificial: em defesa do humano. Belo Horizonte: Forum, 2020.

GARAPON, Antonie. O guardador de promessas: justiça e democracia. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

GOODMAN, Bryce; FLAXMAN, Seth. European Union Regulations on Algorithmic Decision-Making and a “Right to Explanation”. Ai Magazine, v. 38, n. 3, p.50-57, 2 out. 2017.

HART, Herbert. O conceito de Direito. Tradução de A. Ribeirto Mendes. Oxford University Press: Lisboa, 1994.

KATZ, Daniel Martin; BOMMARITO, Michael J; BLACKMAN, Josh. A general approach for predicting the behavior of the Supreme Court of the United States. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0174698 Acesso em 21 jun 2021.

LOBO, Maria Teresa de Cárcomo. Manual de direito comunitário: 50 anos de integração. 3. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá: 2009.

MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições da civil law e de common law e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, v. 49, dez. 2009. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/17031 Acesso em: 31 mai. 2021.

NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência Artificial e Direito Processual: vieses algorítmicos e os riscos de atribuição de função decisória às máquinas. Revista de Processo, v. 285, p. 421- 447, nov. 2018.

O`NEIL, Cathy. Weapons of Math Destruction: how big data increases inequality and threatens democracy. New York: Crown, 2016.

OST, François. Jupiter, Hercules, Hermes: tres modelos de juez. Doxa. 14.1993.

PASQUALE, Frank. The black box society: the secret algorithms that control money and information. Cambridge: Harvard University Press, 2015.

PAPADOPOULOS, Ioannis. Introduction to comparative legal cultures: the civil law and the common law on evidence and judgment (oral presentation of the book by Antoine Garapon & Ioannis Papadopoulos, Juger en Amerique et en France : Culture judiciaire française et common law" (2004). Cornell Law Faculty Working Papers. Paper 15.

PESSOA, Flávia Moreira Guimarães. Manual de metodologia do trabalho científico: como fazer uma pesquisa de direito comparado. Aracaju: Evocati, 2009.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo comparativo dos sistemas regionais, europeu, interamericano e africano. São Paulo: Saraiva, 2019.

REBOUÇAS, Gabriela Maia. Tramas entre subjetividades e direito: a constituição do sujeito em Michel Foucault e os sistemas de resolução de conflitos. Tese de Doutorado em Direto. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3705 Acesso em: 11 jun. 2021.

REINALDO FILHO, Demócrito. A proposta regulatória da União Europeia para a Inteligência Artificial. Disponível em: https://www.lex.com.br/doutrinas-proposta-regulatoria-uniao-europeia-para-inteligencia-artificial-3a-parte-ndash-sistemas-l/36 Acesso em: 15 julho 2021.

SARMENTO, Daniel. O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais, Belo Horizonte, v. 3, n. 9, jan. 2009. Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/29044 Acesso em: 10 jun. 2021.

SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Raciocício probatório por interferências:critérios para uso e controle de decisões judiciais. Tese de Doutorado em Direito. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/21605/2/Leonard%20Ziesemer%20Schmitz.pdf Acesso em: 5 jul. 2021.

SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. A inteligência artificial no contexto da administração da justiça e da prestação jurisdicional. Anais eletrônicos do Encontro de Administração da Justiça, edição 2020. Brasil, 2020.

SILVA, Luciana Aboim Machado Gonçalves da (Coord.). Mediação de conflitos. São Paulo: Atlas, 2013.

SOARES, Marcelo Negri; KAUFFMAN, Marcos Eduardo; CHAO, Kuo-Ming. Revista Direito Público, Brasília, v. 17, n. 93, mai./jun. 2020.

TAVARES, André Ramos. Nova lei da súmula vinculante: estudos e comentários à lei 11.417, de 19.12,2006. 3 ed. São Paulo: Método, 2009.

UNIÃO EUROPEIA. Proposal of Artificial Intelligence Act, Of the European Parliament and of the Council. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?qid=1623335154975&uri=CELEX%3A52021PC0206 Acesso em: 15 maio 2021.

WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e meios consensuais de solução de conflitos. IN: ALMEIDA, Rafael Alves de; Almeida,Tania; Crespo, Mariana Hernandez. Tribunal Multiportas: investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de conflitos no Brasil, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.

WIMMER, Miriam. Cidadania, Tecnologia e governo digital: proteção de dados pessoais no estado movido a dados. IN: Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no setor público brasileiro: TIC governo eletrônico 2019. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2020.

VALENTINI, Rômulo Soares. Julgamento por computadores? As novas possibilidades da juscibernética no Direito e do trabalho dos juristas. Tese de Doutorado em Direito. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-B5DPSA Acesso em: 10 jun. 2021.

ZUBOFF, Shoshana. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In: Tecnopolíticas de vigilância: percpectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/revistajur.2316-753X.v5i72.6241

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Revista Jurídica e-ISSN: 2316-753X

Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181

Licença Creative Commons

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.