MULHERES CARCEREIRAS: EFEITOS DO TRABALHO EM UNIDADES PRISIONAIS
Resumo
RESUMO
O sistema penitenciário brasileiro enfrenta diversos desafios como a superlotação, a precariedade das estruturas físicas, a insalubridade e a dificuldade de ressocialização dos apenados, além da violência e da violação de direitos. Esse contexto se revela um ambiente propício para adoecimentos físicos e psíquicos. É nesse cenário que as policiais penais (PP) exercem a função de custódia, sendo responsável pela manutenção da ordem e integridade das internas nas unidades prisionais femininas. As policiais penais enfrentam um processo de subjetivação singular, resultante da experiência no cárcere, lidando com estresse, sobrecarga de trabalho, dentre outros problemas. Assim, essa pesquisa teve por objetivo compreender os impactos do trabalho prisional nos processos de subjetivação de policiais penais em uma unidade prisional feminina, localizada em Natal-RN. A metodologia adotada consistiu na aplicação de entrevistas semiestruturadas com doze policiais penais, abordando aspectos de sua rotina, afetações, produção de subjetividade, vida familiar e relações interpessoais antes e depois da inserção no sistema prisional. Os resultados indicam processos de subjetivação que transcendem o ambiente laboral, sugerindo um modo específico de ser e agir, caracterizado por um estado permanente de vigilância, sensação de insegurança, estresse, agressividade, naturalização e banalização da violência.
Palavras-chave: Sistema Prisional; Policial penal; Subjetividade.
ABSTRACT
The Brazilian prison system faces several challenges, such as overcrowding, precarious physical structures, unhealthy conditions, and difficulties in reintegrating prisoners into society, in addition to violence and violations of rights. This context is a favorable environment for physical and mental illness. It is in this scenario that female prison police officers (PP) perform the role of custodians, being responsible for maintaining order and integrity of inmates in female prison units. Female prison police officers face a unique process of subjectivation resulting from their experience in prison, dealing with stress, work overload, among other problems. Thus, this research aimed to understand the impacts of prison work on the subjectivation processes of female prison police officers in a female prison unit located in Natal, Rio Grande do Norte. The methodology adopted consisted of applying semi-structured interviews with twelve female prison police officers, addressing aspects of their routine, affects, production of subjectivity, family life, and interpersonal relationships before and after insertion into the prison system. The results indicate processes of subjectivation that transcend the work environment, suggesting a specific way of being and acting, characterized by a permanent state of vigilance, a feeling of insecurity, stress, aggressiveness, and the naturalization and trivialization of violence
Keywords: Penitentiary System; Prison Officer; Subjectivity.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
AMARAL, Maria Amélia do. A reinserção social do apenado: necessidade de políticas públicas efetivas. 2012. 135 f. Monografia (Curso de Direito) – Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, Brasília, 2012.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 263 p.
ASSIS, Rafael Damaceno de. A evolução histórica dos regimes prisionais e do sistema penitenciário. 2007. Disponível em: . Acesso em: 4 jun. 2015.
BRASIL. INSTITUTO AVANTE BRASIL. O sistema penitenciário brasileiro em 2013. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2015.
BONEZ, A.; DAL MORO, E.; SEHNEM, S. B. Saúde mental de agentes penitenciários de um presídio catarinense. Psicologia Argumento, v. 31, n. 74, p. 507-517, jul./set. 2013.
CAMPOS, Juliana de Carvalho; SOUSA, Rosânia Rodrigues. O adoecimento psíquico do agente penitenciário e o sistema prisional: estudo de caso – Sete Lagoas. In: Encontro da ANPAD, XXXV, 2011, Rio de Janeiro.
CENTURIÃO, Luiz Ricardo Michaelsen. O agente penitenciário e seu contexto. Revista da Escola Penitenciária da SUSEPE, v. 1, n. 3, p. 45-52, 1990.
FERNANDES, Rita de Cássia Pereira et al. Trabalho e cárcere: um estudo com agentes penitenciários da Região Metropolitana de Salvador, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, n. 3, p. 807-816, 2002. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2015.
FIGUEIRÓ, Rafael de Albuquerque. A polícia penal do Rio Grande do Norte: três analisadores para pensar subjetividade e trabalho em prisões. O Público e o Privado, v. 21, n. 45, p. 62-83.
FIGUEIRÓ, Rafael de Albuquerque. Cartografia do trabalho de agentes penitenciários: reflexão sobre o “dispositivo prisão”. 2015. 273 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 292 p.
GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. 7. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001. 312 p.
GUATTARI, Felix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996. 327 p.
HESS, Remi. O momento do diário de pesquisa na educação. In: Ambiente e Educação, v. 14, p. 64. Rio Grande: Universidade Federal do Rio Grande, 1996.
KALINSKY, Beatriz. El agente penitenciario: la cárcel como ámbito laboral. Runa, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, 2015. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2015.
KUROWSKI, Carlos Mario; MORENO-JIMÉNEZ, Bernardo. A síndrome de burnout em funcionários de instituições penitenciárias. In: BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria T. (Org.). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. p. 282.
LOPES, Rogério. Psicologia jurídica: o cotidiano da violência: o trabalho do agente de segurança penitenciária nas instituições prisionais. Psicologia América Latina, México, v. 0, p. 1-8, 2002. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2015.
LOPES, Rogério. Atualidades do discurso disciplinar: a representação da disciplina e do disciplinar na fala dos agentes de segurança penitenciária. 1998. 207 p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
LOURENÇO, Luiz Carlos. Batendo a tranca: impactos do encarceramento em agentes penitenciários da região metropolitana de Belo Horizonte. Dilemas, 2010.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal: comentários à Lei nº 7.210. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. Punição, encarceramento e construção de identidade profissional entre agentes penitenciários. São Paulo: IBCCRIM, 2005. 285 p.
MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. A identidade e o papel de agentes penitenciários. Tempo Social, v. 25, n. 1, p. 123-140, 2013.
PEREIRA, Henrique José; MULLER, Marcelo Mário; PADILHA, Sandra. A escola da prisão na ótica do agente penitenciário. IFPR, 2008. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2015.
RUMIN, Cassiano Ricardo et al. O sofrimento psíquico no trabalho de vigilância em prisões. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n. 1, p. 188-199, 2011.
SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA. Revista da Escola Penitenciária da SUSEPE. São Paulo: Camaleo, v. 1, nov. 2008. Semestral. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2015.
THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. 148 p.
VASCONCELOS, Ana Sílvia Furtado. A saúde sob custódia: um estudo sobre agentes de segurança penitenciária no Rio de Janeiro. 2000. 66 f. Dissertação (Mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000.
DOI: http://dx.doi.org/10.21902/RevPercurso.2316-7521.v3i48.7256
Apontamentos
- Não há apontamentos.
PERCURSO, e-ISSN: 2316-7521
Rua Chile, 1678, Rebouças, Curitiba/PR (Brasil). CEP 80.220-181