RELAÇÕES DE PODER E DOMINAÇÃO NAS PLATAFORMAS: reflexão crítica sobre a trama da uberização
Resumo
As linhas deste artigo objetivam analisar as relações de poder existentes na mediação do trabalho por via das plataformas digitais. Este estudo caracteriza-se como um ensaio teórico com base em livros e artigos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais. A análise do material demonstra que as plataformas digitais se destacam como grandes empregadores no Brasil. Elas atuam sob a ideia de intermediação da força de trabalho como forma de apoiar o empreendedorismo. Todavia, as práticas de reprodução do trabalho revelam que as plataformas atuam num cenário de dominação sobre o trabalhador. Como prática, as plataformas estão programadas para captura dos dados dos trabalhadores durante o expediente de trabalho e, com base nestes dados, elas estão se tornando hegemônicas num ambiente onde a vulnerabilidade por via do desemprego, subemprego e desalento faz o trabalhador se submeter às condições específicas das plataformas. Conclui-se que as plataformas não incentivam o empreendedorismo, pois seu modus operandi não condiz com a prática empreendedora, já que são as plataformas que detêm poder sobre os meios de produção, ao tempo em que elas têm poder e dominação sobre os trabalhadores.
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PDFReferências
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